quinta-feira, 1 de abril de 2010

A integração dos “retornados” no interior de Portugal: o caso do distrito da Guarda

“… Lá todos experimentavam muita coisa e chegavam aqui e diziam: «- Isto dá fico, se não dá tento outra coisa» e alguns até foram a coisas totalmente novas. Por exemplo encontrei um senhor (que conhecia de lá) que me disse: «- Eu nunca ganhei tanto dinheiro como agora!», ele lá fazia tubos de escape porque lá as panelas não resistiam muito. E ele foi montar uma empresa ali perto de Coimbra. Já fazia tubos para todas as marcas e era mais barato, mais rápido e até mais perfeito do que as oficinas das marcas. (…) Depois vinha-se com outra maneira de ver a realidade (…) Vínhamos com vistas largas e aqui as pessoas estavam a olhar para o seu umbigo. Nós não! Tínhamos estado numa terra tão grande, em que tudo era grande (...) Aqui tudo era dado numa mãozinha, tudo contadinho e nós não vínhamos para isso. (…) Por exemplo um outro senhor que tinha lá um grande armazém, pediu dinheiro a amigos e hoje tem cá um grande armazém que, pela mais pura lei da concorrência, obrigou outros, que nunca se modernizaram, a fechar. (…) Um outro retornado, comprou uma quinta que ninguém parecia querer, só que nessa quinta passou uma estrada (…) Depois ainda foi dividida por uma urbanização e hoje pode viver descansado. (…) Houve um irmão meu que, com as propriedades que recebeu de herança, implementou um modelo diferente de exploração… Semeava em regime de monocultura numa região que, ainda hoje, é conhecida por uma agricultura quase de subsistência. Depois podia vender a produção nas cidades, porque tinha em grandes quantidades. (…) Um ano, apenas plantou favas, o que até se
tornou uma anedota local: «- Veio das Áfricas e está maluco» diziam. Simplesmente ele encheu uma camioneta e foi vender a Coimbra… Fez dinheiro! No ano seguinte fazia alhos, por exemplo, e ia vendê-los pelas terras… De facto essas ideias vinham de África. É que lá só se fazia monocultura e estávamos habituados a isso. Na minha fazenda quase só plantávamos monocultura. Figos, por exemplo, é que lá as figueiras dão figos todo o ano e, assim, podiam-se vender todo o ano e também uvas de mesa. Era a inovação… Quando vou a Fátima encontro sempre um ou dois, que nunca tinha visto e pergunto como estão, em regra estão bem...”. [Entrevista
n.º 3]


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