sexta-feira, 16 de julho de 2010

Retornados como eu

 
Eu sou uma retornada. Nos anos 70 do século XX, o vocabulário português ganhava uma nova palavra - "retornado".  Comecei a ouvir a palavra em 1975, no ciclo preparatório, “és uma retornada, volta para a tua terra!”. E eu, que obviamente me via como portuguesa, ficava atónita com aquela acusação. Tinha 11 anos e vinha de uma terra que se dizia ser "Portugal Ultramarino".
Testemunhos de retornados:
Um dia, darei também o meu testemunho.
"Mas, note-se que este termo foi "arranjado" pelo próprio governo, com a criação do IARN. E se é verdade que muitos desses portugueses retornaram a Portugal, muitos outros não retornaram! Retornar é voltar a..., regressar a ... e esses portugueses que tinham nascido e crescido nas colónias, acabaram por vir parar a Portugal e não retornar !” (…)
 "A grande maioria dos retornados "deu a volta por cima" e são hoje fonte produtiva de Portugal! Nos últimos tempos, cerca de 200 mil portugueses foram para Angola! Há já quem defenda a teoria de que o futuro de Portugal passa pela emigração para aquele país. Provavelmente, muitos desses portugueses são agora "retornados" naquela terra que ajudam a renascer ao mesmo tempo que ajudam Portugal, por razões óbvias!"
"E assim, muitos "retornados", depois de espoliados, ainda vão ajudar Portugal..."
" Obrigado aos "retornados" pelo que têm feito por este país!..."
PEDRO CABEÇADAS em "FARO OESTE", FARO , 17 de Junho de 2007
 
Quem eram os retornados?
 Mais de meio milhão de pessoas chegou, de repente, a Portugal. Essas pessoas, porém, de uma forma notável,  conseguiram integrar-se na sociedade portuguesa sem conflitos de maior. Haverá casos semelhantes noutros países? Do número de retornados recenseados pelo INE em 1981, 61% eram oriundos de Angola, 34% de Moçambique e apenas 5% das restantes colónias. Quase dois terços desses retornados nasceram em Portugal (63%), embora esta proporção se inverta nas camadas mais jovens, 75% dos menores de 20 anos eram naturais das colónias.
O cais de Lisboa enchia-se de caixotes vindos de África, o aeroporto estava repleto de pessoas que dormiam sobre malas, e começou a aparecer também muita gente nova, gente diferente, gente que vestia roupas coloridas e tinha um ar triste, vindos de Angola, Moçambique, Guiné e Timor... Eram os retornados que depressa se misturaram com as gentes de cá e se distribuíram um pouco por todo o país. Procuravam, na sua maioria, ir para junto das suas famílias e das suas origens. E com eles vinham muitos que pisavam pela primeira vez o solo de Portugal continental.
A Descolonização
O Programa do MFA previa a discussão do problema da Guerra Colonial. Em Julho de 1974, o Presidente da República, General Spínola, reconheceu o direito à independência dos povos africanos.
Iniciaram-se negociações para a descolonização: o governo dos territórios africanos foi entregue aos representantes dos movimentos de independência das colónias, os militares portugueses regressaram a Portugal e milhares de civis voltaram também (retornados).
 
Formaram-se assim cinco novos países africanos independentes.
Timor foi invadido e anexado pela Indonésia em Dezembro de 1975. Durante 24 anos a resistência timorense lutou pela independência que só veio a alcançar em Maio de 2002.
 
Macau voltou a ser território chinês em Dezembro de 1999.
Alguns livros sobre esta temática:
Júlio Magalhães, "OS RETORNADOS - Um amor nunca se esquece"
Trata-se de um livro que me toca particularmente, pois transporta até à actualidade a saga do regresso dos retornados, como é o meu entre tantos outros casos.
António Trabulo, Retornados: o Adeus à África
Este Romance aborda também ele a temática dos retornados. Foi escrito a pensar sobretudo em homens e mulheres que ainda revisitam África nos sonhos.
Sobre o Autor: António Trabulo nasceu em Almendra (Foz Côa) em 1943; fez a instrução primária e secundária em Sá da Bandeira (Angola); estudou Medicina em Coimbra, é Neurocirurgião. Publicou: Mulemba, Contos de África (2003), No Tempo do Caparandanda (2004), O Diário de Salazar (2004), Eu, Camilo (2006), Os Colonos (2007) e A Última Profecia (2007).
Aida Viegas, Abandonar Angola
Publicado em 2002,  é dedicado aos retornados, muitas vezes incompreendidos, gente corajosa que soube reerguer-se das cinzas do infortúnio. Transcrevem-se 9 dos 24 capítulos que compõem esta obra.
Xicoembo
Fontes:
Fontes:
António Barreto, Portugal - Retrato Social, http://tv.rtp.pt/EPG/tv/epg-janela.php?p_id=20216


Tirado DAQUI

OlindaGil

Descolonização de Angola: o testemunho da Dulce