quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Filme fuga à guerra da descolonização

A FUGA DE ANGOLA EM 1975

A “OBSTINADA ARMADA”
Ou como os portugueses, que partiram em caravelas à descoberta do mundo, regressaram das terras africanas em traineiras
… Decorria o mês de Agosto de 1975. O Governo Provisório de Angola estava em funções. O Processo Revolucionário Em Curso (PREC) funcionava bem, tanto na Metrópole como em Angola. Os Movimentos Políticos Angolanos estavam instalados em Luanda e, tal como na Mãe Pátria, os revolucionários aproveitavam-se do que havia à mão, mesmo que os espoliados fossem trabalhadores que tivessem adquirido os bens que possuíam com o esforço do seu trabalho, e com os tostões contados até ao último centavo.
O som mais audível em Luanda era o pregar de caixotes, em que os chamados ‘retornados’ guardavam as suas parcas fazendas, e o fuzilar das armas dos movimentos políticos angolanos, que se bombardeavam de delegação para delegação. A conjuntura era dissuasora para os portugueses, de cultura europeia, continuarem em Angola.

Tinha adquirido um arrastão costeiro chamado ‘Preia-Mar’, poucos meses antes do 25 de Abril, com outros sócios. Face ao PREC, resolvemos pôr a salvo os nossos bens móveis, porque os imóveis obviamente eram impossíveis de deslocar. Começámos a congeminar a nossa fuga para Portugal numa traineira, e iniciámos a aquisição na Manutenção Militar de vários bidões de óleo alimentar vazios, que depois de bem lavados começaram a ser introduzidos no porão do ‘Preia-Mar’, de 55 m3. A intenção era servirem de lastro e, simultaneamente, de reserva de combustível, porque os tanques próprios só comportavam 15 mil litros, claramente insuficientes para uma viagem sem escala até Portugal, como estava previsto.
Tudo foi feito em sigilo, o mais rapidamente possível, para nada constar. O abastecimento era feito nos locais próprios, nessa altura já guardados por soldados do Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA). Seria eu o comandante da expedição, e o único que sabia navegar em alto mar.
    A frota da aventura
No dia aprazado para a fuga, pedi para gozar o meu mês de licença anual em Portugal, com o pretexto de ir em tratamento. Tirei bilhete de ida e volta com OK, num avião da TAP que partia cerca da meia-noite. Em vez de embarcar no avião, à mesma hora estava a embarcar no ‘Preia-Mar’. Tudo tinha sido previsto, e o arrastão já tinha tirado licença na Capitania do Porto de Luanda para ir a Benguela comprar apetrechos marítimos, para justificar a sua partida caso fosse interceptado por um barco patrulha, à saída do porto.
O nosso destino, de luzes apagadas depois de sairmos a barra, foi 15 milhas a NW do Ambriz, zona então controlada pela Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA). Era ali que devíamos encontrar-nos de manhã cedo, com outras embarcações que também tinham planeado a fuga. A frota prevista era de quatro embarcações, mas à última hora juntaram-se mais duas, que tinham projectado a sua viagem para Portugal com base numas poucas lições de navegação ministradas por um comandante de um navio da Companhia de Transportes Marítimos (CTM), na época fundeado na baía de Luanda. Estas lições consistiam em navegar a determinado rumo até encontrar terra (a Costa do Marfim), depois, através da sonda e segundo rumos que tinham sido previamente marcados numa carta, seguiriam para Portugal contornando o continente Africano.
No dia da partida, a frota era composta pelo “Preia- Mar”, de 24 m Lpp, tripulada por mim, pelo mestre Nunes, já falecido, e os motoristas Manuel e Carlos, este último também já falecido; pela “Vilamoura”, de15 m Lpp, tripulada pelo seu proprietário, mestre Manuel Rocheta, também sócio do “Preia-Mar”, e por Manuel; pela “Gavião dos Mares”, de16 m Lpp, tripulada pelo seu proprietário, mestre Luís Rocha, também sócio do “Preia-Mar”, e os seus muito jovens filhos Tony e Luís Manuel; pela “Quatro Irmãs”, de 22 m Lpp, tripulada pelo mestre Sebastião, José Fuzeta e Vítor; pela “Mártir S. Sebastião”, de 15 m Lpp, tripulada pelo mestre Manuel das Caixas e Fazenda; e pela “Henrique Eduardo”, de 15 m Lpp, tripulada pelo mestre Vítor e Domingos. Estas duas últimas embarcações juntaram-se a nós à última hora.
    Rumo à Metrópole
Quando partimos de Luanda por volta das 02:00, ainda o mestre Luís e os seus dois filhos estavam a carregar os últimos apetrechos para bordo da “Gavião dos Mares”, além dos mantimentos que iriam ser distribuídos pelo “Preia-Mar”. Chegámos ao local do encontro por volta das 07:30, e passadas duas horas o “Gavião dos Mares” não havia maneira de chegar. Foi o tempo suficiente para que o mestre Nunes tivesse retirado da sua embarcação, de 9 metros de comprimento, os apetrechos de pesca, desmontasse o seu motor de 80 h.p. e os embarcasse no “Preia-Mar”, para em seguida abrir a vávula de fundo e deixar afundar a sua forma de ganhar a vida. E aquele era o fruto de uma vida de trabalho, em Moçambique e ultimamente também em Angola, no Cacuaco, onde a pesca do camarão era o seu sustento e o da sua família.
Nunca mais esqueci aquela cena, com mestre Nunes a deixar rolar, pela sua face tisnada pelo sol e pelo sal, uma lágrima de adeus a um sonho e a um ser. Nos seus olhos vi todo o mar salgado que acompanhou o seu mister de pescador desde a infância. Afundaram-se ali muitos anos, muito esforço e muitos sonhos.
Aproveitei o tempo de espera para fixar a bitácula da agulha padrão, na boca do porão do “Preia-Mar”, com patarrazes e esticadores. Era o local mais adequado e desimpedido, para ter acesso ao sol ou a outros astros. E aproveitei ainda para dar umas voltas, por BB e EB, para uma compensação expedita através de marcações ao sol.

    ‘Gavião dos Mares’ à vista
O atraso do “Gavião dos Mares” começou a gerar alguma inquietação e o pânico prometia instalar-se. A "Mártir S. Sebastião” e a “Henrique Eduardo”, com receio de serem interceptadas, tomaram a decisão de prosseguir viagem, confiados na sua ciência náutica, bebida a bordo do tal navio da CTM, fundeado em Luanda. Como nunca acreditei que aquele expediente os levasse a bom porto, recomendei-lhes que sempre que alterassem o rumo registassem o dia e a hora, para uma eventual ajuda que eu pudesse vir a dispensar. Entretanto, eu próprio anotei o rumo deles, a hora de partida e o momento em que desapareceram no horizonte. Tinha, assim, alguns elementos que podiam ajudar na determinação do chamado ponto de fantasia – o ponto estimado dos nossos primeiros navegadores. Muitas vezes, nos idos do século passado (e estou a reportar-me a quatro décadas atrás, recordando que estamos já no século XXI), este ponto de fantasia era usado como a única maneira de determinar a posição quando o céu se apresentava encoberto. Mais, era usado tanto a bordo dos melhores paquetes da época, como em navios de carga geral, onde embarquei; era usado ao largo da Sierra Leoa até ao Cabo Palmas, acompanhado de azimutes radiogoniométricos que se cruzavam às vezes em polígnos de tamanho da palma de uma mão. Ainda estava para chegar o GPS e os RADARES desse tempo eram de ouvir.
Cerca das 11:00, quando já estávamos decididos a partir sem o mestre Luís, aparece no horizonte a silhueta de uma traineira que viria a ser a “Gavião dos Mares”. Mesmo com o atraso, o mestre tinha partido da praia sem a sua carga principal: os mantimentos. Ficaram em terra por desconfiança de um africano, que os abordou a pedir peixe. Quando lhe responderam que não tinham, porque estavam a preparar-se para ir para o mar, logo o africano puxou de um walkie-talkie e começou a comunicar. O receio de se tratar de um informador foi razão suficiente para saltarem para a traineira e toca a andar que se faz tarde, deixando na areia alguns mantimentos que muita falta nos fariam uns dias depois.
    Traineiras perdidas
Iniciámos a nossa viagem rumo ao Cabo Palmas. Passados dois dias, as duas traineiras que tinham partido por sua conta e risco estavam a entrar em contacto via rádio, dizendo que só viam céu e mar. Não sabiam onde estavam e a única indicação que deram foi a de que tinha passado por eles um navio tanque de chaminé vermelha, que seguia a determinado rumo.
Reconstituí a rota deles, através do tal ponto de fantasia. Corrigi os seus rumos e aproei-os ao farol de Kablake. Deixei-os navegar até avistarem o clarão do farol, em cuja direcção tinha soltado os seus rumos, recomendando que me avisassem logo que o clarão aparecesse. Entretanto, com o auxílio de um lápis que colocavam no centro da agulha de governo, para servir de mira, iam-me dizendo por quanto estava o sol ou a lua: era a maneira para determinar os desvios das suas agulhas.
Finalmente, apareceu a luz de um farol. Pela contagem dos flashes, verifiquei que era realmente o farol pretendido. Estava determinada a posição deles, com alguma precisão. Foram, então, seguindo as minhas instruções quanto a rumos e marcações de TRAUB. E eu corrigi a minha velocidade, de modo a fazer a devida cinemática para o encontro no Cabo Palmas.
O encontro deu-se à noite, pelas 02:00 do dia 19 de Setembro de 1975, ao largo do Cabo Palmas, no meio de muito tráfego marítimo. Quando verifiquei que estavam no meu horizonte, disse-lhes que acendessem e apagassem as luzes, marquei-os com a minha agulha e recomendei que navegassem ao rumo oposto. Estava outra vez reunida a “obstinada armada”, constituída pelas seis traineiras.
    Num mar de fome, e ‘alfaiates’
Ao largo do Cabo Palmas, de provisões de boca (designação pomposa e dialética) só havia atum em conserva, massa e arroz. O bacalhau já tinha sido devorado. As galinhas tinham morrido dois dias depois de partirmos, e os nossos mantimentos tinham sido deixados na praia da Ilha de Luanda. Pedimos a uma embarcação, que pescava nas imediações, comandada por um europeu e com restante tripulação africana, que nos desse algum peixe. Dois baldes de peixinhos muito pequenos foram distribuídos por todas as traineiras. Ao sul da bóia de St. Ann, frente à ilha de Sherbro, na Sierra Leoa, a 15 milhas de terra e em 32 bb, lançámos à água uma pequena rede de arrasto, arrastando furtivamente. Tivemos pouca sorte e conseguimos somente meia dúzia de peixes, o que não deu para nada. Com receio de sermos apanhados resolvemos prosseguir viagem. Aproveitámos para ceder gasóleo, que já começava a escassear, ao ‘Gavião dos Mares’. Atirámos para o mar dezasseis bidões, lingados um a um, que depois foram içados para bordo daquela traineira por cabo vaivém. Não pude permitir que encostassem, apesar do mar estar raso, com receio de uma colisão e consequente àgua aberta, que seria uma fatalidade. Um dos bidões escapou-se do estropo, e o filho mais velho do mestre Luís Rocha, o jovem Tony que ainda não tinha 20 anos, atirou-se à água para voltar a lingá-lo, sem pensar que aquela zona era habitat de ‘alfaiates’ (tubarões). Tratei de avisá-lo imediatamente, mas para ele o bidão de gasóleo era mais importante.
Continua no próximo número...
Joaquim Bertrão Saltão
Capitão da Marinha Mercante

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

«Bravos» Retornados: Álvaro Faustino


Álvaro Faustino

da «Cozinha» homenageado pelo Município de Portimão
 Sábado, 16 de Janeiro de 2009 (in ALGARVE MAIS)

Nascido e criado em Angola, esta é a história de um homem que cedo dominou o ofício do comércio. Com um supermercado aberto mal conheceu a idade adulta, Álvaro Faustino viveu o período da guerra colonial e da independência de Angola.

Veio para Portugal como refugiado com uma mão à frente e outra atrás das costas e assentou arraiais em Portimão, onde construiu uma carreira de sucesso e continua, aos 71 anos, cheio de força ao leme dos negócios.

Álvaro Gomes Faustino nasceu em Porto Alexandre, no sul de Angola, já lá vão 71 primaveras, no seio de uma família maravilhosa em que o pai era marítimo. Concluída a quarta classe, começa de imediato a trabalhar, juntamente com o irmão gémeo, Eduardo, enquanto o irmão mais velho (tem mais dois anos) prosseguiu os estudos. Ainda chegaram a fazer os exames de admissão ao liceu, no entanto, depressa se aperceberam da vocação para o comércio, pois já ajudavam no negócio do tio, Joaquim Ferreira. Muito mexido e irrequieto, Álvaro arranjou um emprego perto de casa, com Emelino Abano, e o seu primeiro vencimento, há 58 anos, eram 800 angolares, a moeda angolana na época. Volvidos dois anos, abre um novo estabelecimento mesmo em frente e é convidado para ali trabalhar, indo ganhar o dobro do ordenado. “Nunca fiz nada sem o apoio do meu pai. Conversávamos muito durante o almoço e o jantar e sempre trabalhámos para o monte, para o bem comum e nunca por imposição”, recorda os tempos de adolescência. “Na loja do Sr. Adérito vendíamos desde a agulha ao avião. Hoje, as grandes superfícies não são mais do que os estabelecimentos que existiam antigamente em Angola. Tínhamos o vinho, mercearias, brindes, ouro, frigoríficos a petróleo, máquinas de costura, confecção, tudo importado”.

Mais anos se passam e o pai e o tio decidem modernizar o negócio, com as diversas secções separadas, chamando Álvaro para a actividade, onde já se encontrava o irmão gémeo. “Quando me fui despedir do senhor Adérito, foi comigo um empregado que também já lá estava há muito tempo e ele começou logo a mandar vir com o Catraio. Não me senti bem com a situação, pedi para me dispensarem mas deixei uma porta aberta e fui então para a empresa do meu tio, mas as coisas não resultaram como esperado e acabámos por montar a «Casa Gémeos». No entanto, como éramos bons rapazes e fiávamos bastante, tivemos uma crise financeira e lá veio o Sr. Adérito oferecer-me emprego”, relata o entrevistado, com todos estes acontecimentos bem frescos na memória.
É por esta altura que Álvaro Faustino conhece a sua esposa (Elisabete Faustino), mas o tempo para namorar era quase nulo. “Quantas vezes lhe fui bater à porta às 11 da noite só para lhe dar um beijinho”, conta os primórdios de um relacionamento que ainda hoje se mantém, tendo o casal vindo para Portugal depois da independência de Angola. “O meu irmão gémeo é que trouxe as minhas filhas e os meus pais em Outubro de 1975”. Mas a vida na antiga colónia deixa inúmeras saudades no empresário de Portimão, uma época onde trabalhava, dançava e brincava. “Praticamente aquilo que faço hoje aqui”, diz com uma sonora risada, garantindo que sempre foi feliz e acarinhado. “Os gémeos eram sempre vistos com bons olhos e toda a gente aceitava as nossas brincadeiras. Temos a felicidade e a bênção de Deus de termos nascido gémeos e nunca soubemos viver um sem o outro. Aliás, há ocasiões em que estou aborrecido e a minha esposa pergunta logo se não será qualquer coisa com o Eduardo”.

De entre as muitas histórias e aventuras que normalmente acontecem com os gémeos, Álvaro lembra-se perfeitamente de uma sucedida em tribunal. “Quando montámos o supermercado, há 38 anos, apareceu-nos lá uma brigada e tínhamos uma diferença de 20 cêntimos num artigo. Como eu estava mais perto do tribunal, disse ao advogado que não era preciso o Eduardo vir de tão longe, que eu iria no lugar dele, mas aquilo deu confusão porque o dr. Juiz perguntou-me se eu não trabalhava ali no armazém”, relata. “Passado um mês ou dois de estar naquela terra, eu lidava com as pessoas todas, mexia com elas, pela minha maneira de ser, a minha dança, as minhas maneiras e houve logo quem se apercebesse da troca de identidades no tribunal”.
Com 19 anos, Álvaro Faustino vai falar com o governador do distrito para que não fossem os dois irmãos em simultâneo cumprir o serviço militar obrigatório, uma vez que já eram estabelecidos e o certo é que nenhum foi à tropa. Segue-se o melhor período da economia angolana, mas também conheceu o momento mais conturbado da guerra pela independência e vem parar a Portimão mais uma vez pela bênção de Deus, na sua opinião. “Dizia-se que a UNITA tinha entrado em Moçâmedes e que nós teríamos que ir embora e eu pedi a um dos meus funcionários para encher uma carrinha com coisas e disse-lhe que, se não voltasse na segunda-feira, que abrisse a loja e fizesse dela o que quisesse”, relata, antes de avançar com outra história dos tempos da guerra. “Eu era para ser padrinho de um indivíduo e fiquei com o fato dele em Moçâmedes para ir para Porto Alexandre, mas não nos deixaram passar, daí que casou sem a roupa”.

A bordo de um barco foram para «Alves Bay», onde Álvaro e Beta permanecem uns dias num campo de refugiados e ai conhece um dos momentos mais tristes da sua história, antes de embarcar num voo para Lisboa “Chorei um dia inteiro porque precisava de uma mala e depois lá apareceu alguém que me arranjou uma”. Chegados a Portugal, enfrentou mais algumas peripécias: “Como saímos depois da independência de Angola, éramos considerados refugiados e não retornados e, quando cá chegámos, queriam mandar-nos para Manteigas. Eu expliquei-lhes que o meu irmão gémeo e os meus filhos estavam em Portimão e, passada uma hora, lá nos deixaram vir para o Algarve”, refere com uma pequena pausa e as emoções à flor da pele. Quando entra no Hotel Globo, o director indica-lhes que não havia quarto para o casal, mas Álvaro recusa-se a entrar na camioneta e partir de novo, chegando ao ponto de dizer que preferia dormir nas escadas até lhe arranjarem um quarto no hotel. “Dois ou três dias depois, fui dar uma volta pelas lojas e vi que tinha uma hipótese. Eu nunca tinha vindo a Portugal, mas toda a gente afirmava que uma pessoa, para ser empregado de balcão, tinha que passar por marçano. Dizia «Bom Dia» e «Boa Tarde» e ninguém me respondia, observava a atitude dos empregados, para venderem 10 camisas não tiravam uma. Como trouxera umas panelas e abre-latas de Angola e a Beta tinha uma tia na praça, perguntei-lhe se não podia ir para lá também. Como dava muitas gargalhadas e brincava imenso, parecia que isto já era meu e a verdade é que comecei a vender bem”.

A vontade de vencer e inovar

Com 39 anos, Álvaro Faustino dá os primeiros passos no comércio de Portimão, daí defender a pés juntos que nunca é tarde para se começar. Uma rápida pesquisa pelos armazéns abastecedores reforçam a ideia de que poderia abrir o seu próprio negócio, até porque tinha trazido um carro de Angola que poderia vender. “Aparece-me o Zé Alexandre, a contar-me que o sobrinho possuía uma casa que não dava nada e que pretendia trespassá-la. Fui lá falar com ele, mais o meu irmão mais velho, expliquei logo que não tinha dinheiro, o banco também não queria descontar as letras e o Zé Alexandre acabou por ficar como nosso fiador”, retoma a história o nosso entrevistado, que rapidamente fez um mini mercado com a mercadoria que já se encontrava na loja. “Devo tudo à minha mulher, vou ser sincero. Pegamos naquilo e tentávamos conservar as pessoas que entravam o máximo de tempo no interior, para assim atrair outras que andavam na rua, mas foi um período difícil”, admite.

Num domingo de Junho, um armazenista pergunta se o casal não teria um petisco qualquer no estabelecimento, ao que a esposa Beta responde prontamente que sim e junta-se de repente uma série de pessoas que tinham ido ver o jogo do Portimonense. “A vizinhança arranjou-me o carvão e as grelhas e nós fizemos o primeiro churrasco angolano. No dia seguinte, pensei que aquela seria a nossa fonte e mandei logo fazer um fogareiro. Deitava-me à uma e tal da noite e, de madrugada, ia a pé comprar o pão fresco para os clientes, mas era uma aventura maravilhosa”, frisa, acrescentando que, nessa altura, ainda estava a viver no Hotel Globo. “O IARN soube que eu já estava a trabalhar e mandaram-nos embora do hotel e, como o meu irmão e as minhas filhas já se encontravam na Fuzeta, eu e a Beta ainda dormimos uns tempos na loja.

Não nos custou muito, mas tive de ir a Sines, num domingo, pedir dinheiro emprestado a um indivíduo para pagar a primeira letra que se vencia na segunda-feira”.
O terraço do estabelecimento começa a funcionar como restaurante e até turistas estrangeiros eram chamados pelo churrasco à angolana mas, três anos depois, morre o proprietário da casa e os herdeiros, que, segundo Álvaro Faustino, não se davam muito bem uns com os outros, propuseram-lhe a sua aquisição. A situação financeira ainda não permitia tais aventuras e, com a saída à vista, o empresário encontra outro espaço em trespasse, na Rua Direita. “Nunca tive experiência de restaurante mas a vontade de vencer na vida ajudou-me e avançamos para a «Cozinha», logo a vender comida para fora. O problema dos outros restaurantes é que, se precisássemos de uma sopa quente para um filho que estivesse doente, tínhamos que levá-lo lá para comer. Não havia nenhum take-away”, explica, sublinhando que o seu alvará é, há 30 anos, de comida a peso. “Era impensável, naquela época, equacionar-se um negócio semelhante. Hoje, estou desactualizado, mas a casa não dá para mais”.

O êxito foi imediato e Álvaro e Eduardo não tinham um minuto de descanso, suportados pela esposa, Beta e pela afilhada Augusta, mas ainda arranjava tempo para dançar, mesmo trabalhando horas e dias a fio. “Chorava e perguntava como é que Deus me dava tanta força para continuar”, reconhece. “Já aconteceu algumas vezes chegar a casa e a Beta perceber que eu não estava bem e sairmos para dançar, porque a música transforma-me. No dia seguinte, já não me doem as pernas, os braços ou a cabeça e parece que as preocupações desapareceram, mas já lhe disse que não quero ter mais problemas. Quero ser daqueles que sobe na vida, não me interessa se há crise, não posso é adormecer”, dispara.
A alegria de viver é, sem dúvida, uma das imagens de marca do Álvaro da «Cozinha», assim como as suas risadas contagiantes, que aquecem o coração daqueles que as ouvem. Mesmo com 71 anos de trabalho intenso, não baixa os braços e garante que quer seguir em frente enquanto tiver lucidez e força. “Neste fim-de-ano, levantei-me às sete da manhã, fui trabalhar, cheguei às 10 e tal da noite, fui mais a Beta dançar, voltámos para casa às seis da manhã, levantei-me às 10 e fui outra vez para a loja. Não sei onde vou buscar esta força”, questiona-se, com a esposa ali mesmo ao lado, a acenar positivamente com a cabeça a confirmar a história. “Querem ser felizes? Façam como nós: brinquem mas respeitem. Tenho a felicidade de estar com a Beta e outros casais perguntarem se eu não posso ir dançar com a mulher deles”.

A fé em Deus e a alegria de dançar

Se a esposa Beta tem estado sempre ao seu lado, Álvaro Faustino enaltece igualmente a força que Deus lhe tem dado ao longo dos anos, confessando-se um homem muito crente e feliz por receber tanto carinho dos outros. “Ainda no outro dia estava a brincar no correio e um senhor perguntou-me como é que consigo transmitir toda esta alegria. Respondi-lhe que me agarro bastante a Deus e à minha mulher, mas que preciso do carinho deles”. Pessoa afável e sobejamente conhecida dos portimonenses, como antes se verificava em Angola, diz ser incapaz de não cumprimentar os indivíduos com quem se cruza, ao ponto da esposa lhe dizer que tem que arranjar mais um braço. “É um dom. Tenho que dar sempre o «Bom dia» ou «Boa tarde» e não procuro com isso salientar-me, é algo que está dentro de mim. Não estou a fazer uma má acção, a outra pessoa é que pode incorrer nela ao não responder”, salienta.
Depois dos anos abundantes que teve em Angola, Álvaro não esquece os cinco anos em que viveu num quarto com mais quatro pessoas (ele, a esposa, as duas filhas e a afilhada) quando primeiro chegou a Portugal e nem isso impedia que soltasse umas valentes gargalhadas. “O que tenho de mal fica na mesa-de-cabeceira, para fora deito a felicidade”, descreve, adiantando que a única diferença entre ele e Eduardo é que o irmão é menos sonoro nas risadas. “Dança bem na vertente clássica, eu e a Beta somos mais espalhafatosos e expansivos. Ainda há dias estava no Hotel Júpiter e dei uma volta à minha mulher. Quando vou a agarrá-la, já estava ela nos braças de outro homem, com uma pinta que não queira saber. Fui dançar com uma senhora que se encontrava ao meu lado e que, no final, vim a saber que era a esposa do outro senhor”, relata. Para trás ficaram, todavia, as idas aos dancings Nakofino, Esteval, Flor do Lis, Top 60, preferindo agora ficar mais perto de casa. “Vamos sempre os dois sozinhos porque não quero compromissos com mais ninguém e uma noite, ao regressarmos do Nakofino, veio um carro directo a mim, às tantas da manhã, na EN 125. Eu não sabia se parava ou andava, já transpirava, vá lá que ele mudou de direcção. Desde então, decidimos evitar as viagens à noite, pois nunca sabemos como se comportam os outros”.
Álvaro Faustino viu recentemente reconhecido tudo aquilo que tem dado a Portimão, tendo sido homenageado pela autarquia local nas comemorações do Dia da Cidade, facto que o comoveu profundamente. No entanto, mesmo sendo uma terra que evoluiu bastante no pós-25 de Abril, há situações que não colhem a sua aprovação, designadamente a diminuição de estacionamento gratuito e da circulação automóvel nas principais artérias. “Qualquer dia, Portimão está denegrido na zona da baixa e é uma tristeza ver os estabelecimentos fechados. Deviam criar alternativas antes de encerrarem as ruas”, defende o empresário, considerando ainda que existem grandes superfícies em excesso no concelho. “Mas isso não serve de desculpa para o mau desempenho do comércio tradicional. Eu precisava ter as mesmas condições que eles, sobretudo em termos de estacionamento, e foi por isso que lancei a «Cozinha 2». E olhe que aquilo não são só rosas. Eles vão-se digladiar a eles próprios e nós morremos”, desabafa. Qualidade, profissionalismo e simpatia são factores fundamentais para o sucesso, contudo, Álvaro Faustino sublinha que os empresários não podem ficar cabisbaixos com a crise dos concorrentes ou dos outros estabelecimentos. “Não podemos fechar portas só porque não aparece gente”. defende.
Seja como for, e apesar da idade, o entrevistado está confiante que os dois restaurantes «Cozinha» têm futuro garantido, pela mão das duas filhas, mas também não pensa em reforma. “O que desejava era ser senhor de mim próprio e poder estar mais afastado do negócio”, afiança, reconhecendo, no entanto, que os clientes querem continuar a conviver com ele, quanto mais não seja para ouvir a sua risada característica. “Há dias esteve cá um senhor que não nos visitava há 20 anos e ficou super contente quando disparei uma gargalhada. Eu e a Beta deixamos a nossa marca, por aquilo que somos e mesmo no estrangeiro gostam de nós, como verifiquei em Marbella há pouco tempo. Uma senhora, já com duas filhas ao lado, lembrava-se de quando eu lhe dava chupetas, aos anos que isto já foi. Depois, aparece outro casal com histórias semelhantes dos sítios onde dançamos, no Brasil, México e Cuba, nos cruzeiros que fazemos”. Em final de conversa, e sem esconder a emoção, Álvaro da Cozinha reforça a honra por ter sido homenageado pela autarquia portimonense, como já antes acontecera pelo Rottary Clube de Portimão e por outras entidades.
Álvaro Gomes Faustino homengeado

Ao longo da vida, Álvaro Gomes Faustino tem sido variadísimas vezes homenageado, aliás, no amplo escritório da sua residência vêem-se medalhas e placas um pouco por todo o lado. “Estes são os meus pequenos troféus, gestos de muito carinho e amizade que tenho recebido das pessoas”, explica. Na parede, encontram-se diplomas, certificados e, nos móveis, taças e troféus. “São alguns prémios de concursos que ganhamos nos cruzeiros, ou a dançar ou em dias de Carnaval”, argumenta Álvaro Faustino.
Diga-se de passagem que, no seu currículo oficial arquivado na Câmara Municipal de Portimão, constam os seguintes galardões:
A Cozinha foi fundada a 10 de Março de 1979, com estabelecimento na Rua Direita, em Portimão, de forma modesta mas com condições higiénicas e funcionais.
Em 1986, receberam em Itália, pela CIPEM Gastronomia, a Taça de Ouro. Com o aparecimento das grandes áreas e o progresso da cidade, decidiram expandir o seu negócio, com a abertura de mais um estabeleciemento, a Cozinha II, na Urbanização da Quintinha, em Portimão.

No ano de 2000, tiveram a honra de fazer o jantar de Ordenação do Bispo do Algarve, D. Manuel Quintas, que contou com a presença de 300 pessoas.
Foram homenageados, em 2004, pelo Rotary Clube de Portimão.
Desde 1997 até ao ano de 2005, forneceram almoços de Natal para os idosos do concelho de Portimão.


terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Retornados (Aida Viegas)r

Retornados
Há momentos na vida em que tudo se depara negro e a esperança parece irremediavelmente perdida. Se em Angola não poderia continuar, por sua vez em Portugal, quem regressava de África era recebido do pior modo possível; com hostilidade, desdém e mesmo agressividade.
Analisando um pouco a situação logo se chegava à conclusão do motivo pelo qual a maioria dos que agora re­gressavam das ex-colónias, tinham ido lá parar. “Rapidamente e em força para Angola” foi a voz de comando do primeiro ministro português em mil novecentos e sessenta e um, quando ocorreram os fatídicos acontecimentos perpetrados no norte de Angola e extensivos à capital da província. Foi porém demasiado tardia esta ordem.
Se em lugar de ser dificultada a ida dos portugueses do continente para o ultramar como foi durante muitos anos com processos demorados, chegando ao cúmulo de ser necessária uma carta de chamada enviada por um familiar que lá residisse há um certo tempo para que outro membro da família se lhe pudesse juntar, tivessem sido criadas condições de incentivo à ida e fixação de muitos mais portu­gueses para aquelas paragens, talvez as coisas tivessem sucedido dum outro modo. A política ultramarina portuguesa pecou muito por omissão e falta de actualização.
Apesar de tudo a maior parte dos jovens militares que partiram convocados pelo governo da nação seguiu, uns mais receosos que outros, alguns mesmo com uma certa revolta mas a maioria porém, com a noção de que iriam defender uma parte integrante do território nacional, em auxílio dos compatriotas ali nascidos ou radicados cuja integridade física estava a ser ameaçada, enfim, cumprir um dever patriótico ao qual ninguém se deveria eximir. A noção de patriotismo e do cumprimento do dever acompanhou-os e fê-los lutar com valentia no momento da refrega, porém, o conhecimento daquele povo e daquelas terras aos quais, sem dar por isso, se vieram a afeiçoar e a estimar enfeitiçaram muitos deles a tal ponto de trocarem o seu torrão natal por aquelas paragens africanas, elegendo-as, para ali se radicarem e alguns até constituírem família.
Enquanto, até mil novecentos e sessenta e um, grande parte dos colonos que partiram para o ultramar eram gente ligada à terra, que dela viviam e nela trabalhavam, a partir desta data já não era bem assim; muitas pessoas formadas com cursos médios e superiores, quadros qualificados das mais diversas áreas, radicaram-se nos territórios portugueses ultramarinos, facto que deu origem a uma nova maneira de estar, novas formas de vida e um novo desenvolvimento sem precedentes na história daqueles povos.
Matilde chegou a Angola, chamada por seu marido, um dos muitos militares que se deixou enfeitiçar irremediavelmente por África logo após a sua convocatória para a guerra colonial, no ano de mil novecentos e sessenta e um. Ela partiu da metrópole, curiosamente no último voo feito pela TAP num dos antigos aviões de quatro motores a hélice com escala em Bissau, capital da Guiné portuguesa.
Nessa época era costume cantar-se, em todas as escolas de Angola antes do início das aulas pela manhã, o hino “Angola é Nossa”, muito divulgado através de todas as estações de rádio. Angola é nossa gritarei / é carne é sangue da nossa grei / para libertar, para defender, / para lutar até morrer...
Na história de Portugal ensinava-se que Angola bem como todas as outras províncias ultramarinas constituíam parte integrante do grande império português que nos fora legado pelos nossos corajosos e gloriosos antepassados que deram novos mundos ao mundo através dos descobrimentos e eram senhores de aquém e além mar.
A noção de patriotismo do cidadão português, pesava muito na formação dos jovens sendo, como é natural, mais arreigada nos militares, porém, o facto destes terem partido em defesa de um bem comum, começou a esbater-se ao longo dos anos bem como a ligação directa que estas circunstâncias tiveram com a deslocação maciça de muitas de suas famílias para o ultramar.
Os valores da nossa sociedade, com a revolução de vinte e cinco de Abril, estavam a mudar vertiginosamente e nem todos para melhor.
A dificuldade em transferir dinheiro de Angola para o Continente constituiu sempre um obstáculo difícil de contornar à maioria das pessoas que optaram fazer de Angola a sua terra.
A falta de liberdade na circulação de bens entre o ultra­mar e o continente embora fosse justificada, até determinada altura, com a intenção de reter o capital em solo africano para que aí fosse investido, a partir do momento em que se pensou na independência das províncias ultramarinas deveria ter sido de imediato modificada a fim de garantir os direitos dos cidadãos portugueses que lá residiam. Tal medida não tendo sido tomada, originou uma verdadeira catástrofe para quem foi forçado a abandonar África.
Nesta altura dos acontecimentos, dadas as circuns­tâncias das mudanças políticas ocorridas em Portugal, é de todo incompreensível que a transferência de capitais não tenha sido permitida. É intolerável que as pessoas que voluntária ou involuntariamente quisessem abandonar Angola, Moçambique, Guiné ou outra qualquer província não pudessem trazer livremente os seus haveres; dinheiro, carros ou quaisquer outros bens materiais. Prédios, terrenos urbanos ou rústicos, fazendas, fábricas, estabelecimentos, imóveis de qualquer índole, estavam sentenciados a ficar; é mais que evidente que os seus possuidores todos os pretendiam vender mas, em face da situação, não havia quem se interessasse pela sua aquisição.
 
A maior parte dos bens pertencentes aos cidadãos portugueses foi pura e simplesmente abandonada pelo facto de seus donos não terem outra opção. Chegou-se ao cúmulo de se trocarem carros quase novos por simples volumes de maços de tabaco ou por pequenas porções de determinados alimentos, entre eles o pão, que raramente se encontrava à venda.
Houve quem trocasse fazendas e casas por títulos de hipotéticas transferências bancárias para o continente as quais nunca chegaram às mãos dos seus destinatários. O depósito no banco nunca se concretizou e o paradeiro do burlão na maioria dos casos era desconhecido. Os lesados nunca pode­riam reclamar sob pena de incorrerem em crime punido por lei, sendo acusados de transferência ilegal e fraude, se persistissem na queixa.
No mercado negro os escudos angolanos que em tempos, em momentos de alta, chegaram a trocar-se por escudos portugueses na base dos trinta por cento, o que era escandaloso, estavam agora no mesmo mercado nos setenta, oitenta por cento e nem mesmo assim era fácil conseguir a troca. Para além de todas estas vicissitudes, terem de entregar mil e oitocentos escudos angolanos para receberem mil portugueses, não era fácil de aceitar a pessoas que viviam do seu trabalho.
O facto do Governo Português não acautelar ou, pior ainda, não autorizar a transferência dos bens dos portugueses na altura da descolonização foi uma das maiores injustiças, praticadas por quem mandava e a desgraça de tanta gente, que após longos anos de trabalho, caiu sem culpa nem pecado na mais odiosa das misérias, na pobreza extrema, no desespero, muitos na loucura e até na morte. Foi a situação mais injusta e catastrófica que imaginar se possa!
Dum momento para o outro perderem todos os seus haveres sem nada terem contribuído para essa perda. Serem forçados a abandonar o fruto do trabalho árduo no decorrei de longos anos, de canseiras, vigílias, economias feitas à custa de grandes sacrifícios. Deixarem empresas, fazendas, prédios, terrenos, carros, dinheiro, a própria casa com seu recheio, objectos pessoais, roupas, enfim... tudo, (houve pessoas que, se quiseram salvar a vida, regressaram apenas a roupa que traziam vestida).
Verem-se despojados de quanto haviam adquirido, custa muito a aceitar e, é impossível explicar por palavras a quem o não viveu.
Porém a desventura não se ficou pelo roubo de que foram vítimas.
Para quem espoliado de África, ao chegar a Portugal se encontrava sem nada, sem trabalho e sem dinheiro para fazer face às despesas mínimas, com filhos, dois, três, quatro, que necessitavam de alimentação, casa, roupa, cuidados de saúde, de educação e os demais inerentes à vida. Bater de porta em porta à procura de trabalho, de alojamento e ver as portas fecharem-se-lhe sistematicamente. Tentar junto das instâncias oficiais encontrar soluções para minimizar as causas da tragédia que sobre si se abatera e não conseguir resposta. Ver passarem-se dias, semanas, meses sem vislum­brar a mais ténue luz ao fundo do túnel era duro e de uma imensa crueldade.
O calvário destas gentes no entanto, não se deteve por aqui, continuou no acolhimento de que foram alvo, nos títulos de honra com que foram rotulados: fascistas, colonizadores, desalojados, retornados. Retornados foi ponto assente. No fim de algum tempo ficariam os famigerados retornados.
Foi com muita tristeza e enorme desespero que constataram a hostilidade com que os viam chegar em ava­lanche cada vez mais densa à medida que se ia aproximando a anunciada independência, melhor diria, a desgraça. Desgraça dos retornados, despojados de todos os seus haveres e reduzidos à pobreza, desgraça e condenação definitiva das gentes de Angola.
Para maior desgosto dos já destroçados retornados, muitas pessoas da nossa sociedade achando-se na posse do discernimento, da sabedoria, da justiça nem sequer se davam ao trabalho de camuflar os seus sentimentos de desagrado, passando muitas vezes de hostis a agressoras quer em palavras quer amiúde em actos rancorosos praticados contra irmãos, parentes, amigos, conterrâneos conhecidos ou desconhecidos que despojados de tudo regressavam de África.
Estes ouviam com frequência dizerem-lhes que vinham sem nada porque queriam, ninguém os forçara a ficar por lá. Fora a ganância que os lá retivera. Porque não continuavam lá, se era uma terra tão boa? Claro, porque os pretos os corriam porque estava na cara que os maltratavam, os exploravam, os tinham subjugados na miséria. Toda a gente sabia que fulano, sicrano e beltrano chicoteava os pretos, os roubava, os obrigava a trabalhar como escravos...
Queixavam-se de quê? Só tinham o que mereciam. Aquilo era deles, que queriam os brancos trazer? A África é dos pretos, os portugueses é que estavam lá a mais.
Ainda por cima agora queriam vir tirar o lugar aos que cá estavam, que nunca de cá saíram, porque não eram ambiciosos como eles. Quiseram tudo, tudo haviam perdido. Agora nada tinham que se lastimar.
Chegavam ao cúmulo de lhes dizerem que o que haviam ganhado lá tinha sido à custa dos pretos, portanto era justo que lá ficasse.
Agora virem para cá e querem que o estado (eles, que no fim de contas eram eles) os sustentassem à boa vida! Isso era o que mais faltava! Lá tinham vivido à custa dos pretos, cá queriam viver à custa dos brancos.
Cambada de usurpadores e parasitas, era o que eles eram, acrescentavam quando a discussão subia de tom.
Este clima de acolhimento que nunca esperaram encon­trar, deixava os retornados tristes e exasperados. No entanto, apesar de todo o infortúnio por que estavam a passar, alguns dos que chegavam, mais desprendidos ou com um espírito de humor mais apurado, constituindo uma honrosa excepção, ainda tinham ânimo que, por vezes, lhes permitia brincar com a situação.
Foi o caso duma interessante conversa que Matilde ouviu uma tarde ao entrar num pequeno bar duma vila do centro do país onde, como é habitual, um grupo de homens, costumava juntar-se em amena cavaqueira. No momento a conversa estava animada. Os temas, como as cerejas, iam-se encadeando uns nos outros passando, inexoravelmente na altura, pelos retornados.
Uns queixavam-se disto, outros acusavam-nos daquilo, sendo, porém, todos unânimes na ideia de que os regressados de África estavam a constituir uma praga, tal era o número dos que afluíam dia após dia ao Velho Continente.
— Na realidade, disse um dos presentes à laia de con­clusão, daqui a pouco, não se vê mais nada nesta terra senão retornados e cães!
— É verdade, é verdade...
— Você é que tem razão - aplaudiram quase em uníssono todos os presentes.
De repente, alguém reflectiu e, uma voz se levantou do meio do grupo:
— O senhor por acaso não é retornado? Ou é?
— Claro que sou, homem!
— Eu também, exclamou quem falara e, ambos desa­taram a rir com vontade perante o espanto dos demais que de repente não se haviam apercebido onde estava a piada.
Mas estes momentos eram raros. O discurso normal era o que vínhamos descrevendo.
Os retornados eram cada vez mais, queriam era vir tirar os lugares, os postos de trabalho, passar à frente, dos que cá estavam mas isso não iria acontecer porque eles não deixariam. Que pouca vergonha, andaram lá a ganhar muito mais do que os que cá estavam, a trabalhar muito menos, e o tempo a contar a dobrar!
Era com ditos desta estirpe que os mimoseavam.
Parece impossível, mas estas ideias andavam na cabeça de colegas, amigos e até familiares e eram apresentadas sem a menor deferência.
Tentar chamar à razão essas pessoas, que se insurgiam contra quem forçado regressava à sua terra, argumentando de mil maneiras, era tarefa vã. Dizer-lhes que afinal com a ida de muitas pessoas para o ultramar todos haviam ganhado, que as terras africanas foram alvo de um desenvolvimento sem precedentes na história, que as relações entre brancos e negros eram boas, que isso de tratar os negros como escravos, chicoteá-los, acontecera em tempos muito remotos e não na nossa geração (tempos nos quais os próprios brancos eram assim tratados, por outros brancos). Lembrar-lhes quantas mulheres na actualidade recebiam aqui maus tratos, quantas eram exploradas no seu trabalho, já não falando na prática corrente da exploração do trabalho das crianças, dos des­protegidos, dos humildes... de nada valia.
Pareciam desconhecer ou pretenderem ignorar que todas estas questões e procedimentos, embora incorrectos, eram fruto da época e aceites como normais pela sociedade então vigente. Em Angola não acontecera mais que o reflexo do que se passara cá e por esse mundo além, apenas com uma pequena mas significativa diferença; entre os portu­gueses e os nativos aconteceu o que não aconteceu com nenhum outro povo colonizador, a mestiçagem seguida ou antecedida de muitos casamentos entre brancos e negros; não era por acaso que se dizia que, Deus criara os brancos e os negros e os portugueses os mestiços.
Tentar afirmar que os portugueses na generalidade eram tolerantes amigos e respeitavam os africanos tal como os naturais do continente, pagando-lhes bem se trabalhavam bem, era tempo perdido pois tais argumentos pura e simplesmente não lhes interessavam. Era ponto assente:
quem não tinha ido ou ficado em África era honesto, quem lá permanecera era explorador.
No seu entender existiriam algumas excepções... talvez! Davam-lhes por vezes o beneficio da dúvida.
Tentar fazer com que reflectissem, lembrando-lhes que quase toda aquela gente havida perdido tudo sem culpa, pedindo-lhes que se colocassem no lugar de quem voltava de mãos vazias, tal como se um fogo ou uma catástrofe na­tural, um terramoto por exemplo, lhes destruísse todo o seu património, deixando-os dum momento para o outro sem nada, era tempo perdido pois recusavam-se a estabelecer semelhante comparação, por inverosímil.
Caricato seria perguntar-lhes se os emigrantes portugueses, na França, enriqueceram à custa de explorarem os franceses, os da Venezuela, os venezuelanos.., e se os negros não deveriam permanecer na Europa porque não é a sua terra, mas os retornados nunca poderiam colocar tais questões porque jamais pensariam desse modo.
Só passados muitos anos, grande parte dos membros da nossa sociedade viria a admitir que os retornados, na sua maioria, eram gente honesta e empreendedora. Muitos deles conseguiram refazer a sua vida em tempo recorde e, de uma forma exemplar, o que deixou admirados todos os que tiveram conhecimento do modo, talvez único, como se ajudaram mutuamente. O que por certo talvez nunca conseguirão avaliar é o sofrimento pelo qual passaram durante todo esse período de recuperação e as feridas que apesar de todos os esforços, não conseguiram jamais sanar.
Deveria, no mínimo, ter ocorrido, a seu tempo um processo de indemnização aos lesados, por parte do Governo Português, porém, até ao momento actual, por estranho e incrível que pareça, tal facto ainda não aconteceu, a justiça ainda não foi reposta.
A realidade do mau acolhimento de que estavam a ser vítimas todos os que retornavam a Portugal já Matilde a conhecia penosamente martelando-lhe o cérebro sem parar, e quanto doía! Porém era preferível enfrentar a hostilidade na sua terra, a permanecer em Angola onde a vida se havia transformado num enorme pesadelo.
Afinal ela era uma optimista nata e não perdera a es­perança de que, após ter a família reunida, iria conseguir contornar os obstáculos e vencer as dificuldades que se lhe deparassem, por maiores que fossem.


      Página anterior   Índice geral   Página seguinte

A DESCOLONIZAÇÂO E O SEU IMPACTO

    O Programa do Movimento das Forças Armadas contemplava uma solução pacífica para o problema ultramarino e para a guerra colonial, reconhecendo o direito à autodeterminação dos povos. Deste modo, das primeiras medidas adoptadas pelos Governos Provisórios encontram-se as que dizem respeito ao fim das hostilidades e à abertura de um processo negocial que conduziria as Províncias Ultramarinas à independência.

    Se, enquanto Spínola se manteve à frente da Junta de Salvação Nacional, os progressos não foram evidentes, com excepção da Guiné-Bissau, cuja independência, oficializada no Acordo de Argel de 26 de Agosto, Portugal reconhece em 10 de Setembro de 1974,os governos liderados por Vasco Gonçalves aceleraram o processo de independência e descolonização.


    Relativamente a Angola, o processo negocial decorre com os três movimentos de libertação que eram reconhecidos: MPLA; UNITA e FNLA. Entre 10 e 28 de Janeiro de 1975 realizou-se a Cimeira do Alvor, tendo sido estabelecida a independência do território para o dia 11 de Novembro do mesmo ano.



Cimeira do Alvor

 

 Independência de Moçambique


   Relativamente ao processo moçambicano, Portugal acordou com a FRELIMO, no Acordo de Lusaca, a independência para o dia 25 de Junho de 1975.

    O apressado processo de descolonização, motivado, em primeiro lugar, pelas tremendas lutas política em Portugal mas, concretamente no caso de Angola, pelo início da guerra civil entre os três movimentos de libertação, levou ao êxodo de cerca de 350 mil portugueses, a maioria tendo como destino Portugal.



    De um momento para o outro, espoliados de terras que consideravam suas e de um território que entendiam também como seu, com a sensação de terem sido abandonados pelo governo português, cerca de 150 mil portugueses chegam a Lisboa, a bordo de aviões da TAP ou fretados a outras companhias, levando ao caos. Contudo, com relativa facilidade, estes retornados integrarão a sociedade portuguesa.

    Os primeiros tempos foram, todavia, bastante difíceis, visto que muitos retornados tiveram de sair apressadamente de Angola, sem qualquer tipo de bens, exigindo do Estado português a protecção que este não podia dar.


Retornados no Aeroporto de Lisboa

    A independência de Angola e Moçambique alterou profundamente o equilíbrio político da África Austral.

    Por um lado, deixou mais isolados os aliados tradicionais de Portugal na zona, a Rodésia e a África do Sul, países com regimes que consagravam a segregação racial. As lutas pela obtenção de direitos para as maiorias negras intensificam-se. Ian Smith, na Rodésia, é obrigado a ceder: em 1980, realizam-se eleições livres, que dão uma vitória esmagadora à maioria negra e a Robert Mugabe, que muda o nome do país para Zimbabué.

    Na África do Sul, há confrontos cada vez mais violentos com os partidários negros do fim do apartheid, ficando o país isolado na comunidade internacional

    Por outro lado, as guerras civis que tiveram início em Angola e Moçambique, patrocinadas pelas próprias superpotências, trouxeram uma instabilidade muito grande à região.




DESCOLONIZAÇÃO IMPLANTAÇÃO DEFINITIVA DA DEMOCRACIA BIBLIOGRAFIA LINKS ACTIVIDADES

Portugueses em fuga de África e o jornalismo português


«...Entre Agosto de 1974 e o início de 1975 os portugueses em fuga de África mal se vêem nas páginas dos jornais. É claro que se fala deles mas com o incómodo e os rodeios de quem tem de dar uma má notícia no meio duma festa. Esta é a fase em que os fugitivos são necessariamente brancos pois assim facilmente se integram no estereótipo que deles traçam homens como Rosa Coutinho que os classifica como “elementos menos evoluídos que têm medo de perder as suas regalias” ou Vítor Crespo que os define como “pessoas racistas que não abdicam dos seus privilégios”.

Os jornalistas portugueses usam então tranquilamente expressões como “brancos ressentidos”, “brancos em pânico” ou pessoas que “reivindicam um desejo de viver num mundo que já acabou” para referir a maior fuga de portugueses nos seus muitos séculos de História. Os primeiros a chegar, logo em Agosto de 1974, ainda tiveram jornalistas à espera. Mas semanas depois, quando a catástrofe se torna não só óbvia como incontornável, as notícias sobre o “regresso dos colonos” quase desaparecem e o que temos cada vez mais são longos artigos sobre a descolonização cheios de declarações de líderes ou candidatos a tal. Jornais como o “Diário de Notícias”, o “Expresso” ou “O Século” enviam repórteres para a Guiné, Angola e Moçambique. Estes relatam com detalhe e parcialidade as lutas pelo poder nos diversos movimentos – sobretudo em Angola . O drama das pessoas parece-lhes uma fatalidade histórica. Fatalidade aliás inscrita no termo por que haveriam de ficar conhecidos: passada a fase caricatural dos “colonos brancos”, ainda se experimentou “deslocados do Ultramar” ou desalojados. Por fim surgiu o salvífico termo “retornado”, pese muitos deles não estarem a retornar a parte alguma porque simplesmente tinham nascido e vivido toda a vida em África. Refugiados, termo usado então e agora com bastante ligeireza, é que eles nunca puderam ser.

No início de 1975 era evidente que a descolonização não ia ser a página gloriosa que os jornalistas tinham sonhado mas daí a dar voz às suas vítimas ia um passo que não conseguiram dar. E por isso os mesmos jornalistas que poucos anos antes tinham denunciado vivamente a expulsão de Portugal do dançarino Béjart eram agora incapazes de criticar a expulsão de Angola e Moçambique de jornalistas estrangeiros. E de que eram acusados esses jornalistas? Fazer notícias fundamentadas em “opiniões particulares”. Ou seja ouvirem as histórias das pessoas e não apenas as versões da História que os dirigentes repetiam.

Não existe uma data precisa para definir o momento em que se tornou patente que os retornados estavam longe de ser todos brancos mas quando a ponte aérea os fez desembarcar às centenas de milhar em Lisboa tornou-se evidente que muitos deles eram negros, mulatos, indianos… com cores e hábitos de vida muito distantes do tal boneco do fazendeiro branco de chicote na mão, a que inicialmente foram reduzidos. Perante o mal-estar que a sua simples existência causava, os fugitivos passaram rapidamente da caricatura ao esquecimento. Foram precisas décadas para que grandes reportagens fossem dedicadas ao turbilhão de factos que fez deles retornados . O problema deles não era não terem uma história para contar. Simplesmente a história, a grande história que eles tinham para contar não era aquela que os jornalistas achavam que deviam levar para as suas redacções. Por favor, não me contes a tua história – é um pedido que nenhum jornalista verbalizará. Mas no silêncio e na falta de nexo de muitos textos é esse pedido que se encontra.


Fonte

*PÚBLICO 29 de Julho

domingo, 10 de janeiro de 2010

--"APELO À VERDADE SOBRE A DESCOLONIZAÇÃO" --(PETIÇÃO)--


http://www.esfcastro.pt:8079/users/franciscosilva/Protestoderetornadosdasexcolonias.jpg--"APELO À VERDADE SOBRE A DESCOLONIZAÇÃO" --(PETIÇÃO)--



..." To : Senhor Presidente da Assembleia da República Portuguesa"
...O timbre oficial era o de "RETORNADOS" mas, nos bastidores da vida, os epítetos eram outros : "exploradores", "ladrões", "assassínos"...
A partir de 1975, fugindo da guerra, fomo-nos espalhando pelo mundo. Sós, escorraçados, incógnitos ou fim de notícia nos meios de comunicação social, fomos o estandarte para a consolidação de uma democracia que relegou, para plano secundário, a vida de milhões de portugueses.
Dilacerou-se a alma de quem, afinal, vivera a sua vida num dado enquadramento, mesclando-se, aculturando-se, recriando uma sociedade diferente em um espaço distinto.
Criámos uma sociedade multirracional./ Andámos nas mesmas escolas. / Frequentámos os mesmos lugares de lazer. / Dancámos a "rebita" ou a "marrabenta" em conjunto. / Os poderes instituídos segregaram-nos, vilipendiaram-nos... / E a reparação moral jamais sobreveio. / Para se salvaguardarem mudaram o nome às coisas : ao abandono ignóbil e sem sentido se chamou a "exemplar descolonização". / E as vítimas de tamanha irresponsabilidade contam-se por milhões. / O País teve o direito de colonizar. Teria o dever de descolonizar. / E não o fez. / E lançou os deserdados da fortuna para o esgoto da História... sem honra nem glória. / António José Saraiva -- o intelectual honesto e insuspeito que a História regista -- qualificou o exemplar abandono como a "página mais negra da História de Portugal" !

Volvidos 30 anos,exige-se o reconhecimento do indómito esforço que foi o nosso para a criação de uma sociedade singular que os famigerados "ventos da História"(a cegueira política, a cobardia institucional e a cedência a interesses outros) fizeram precipitar no caos.
Exige-se tão só :
A REPOSICÃO DA VERDADE, a REABILITAÇÃO de cada um e todos os que nados e criados além-mar ergueram sob o signo do trabalho honesto verdadeiros IMPÉRIOS, a REPARAÇÃO MORAL, afinal, a que temos jus.

Daí que formulemos a PETIÇÃO que visa a veicular uma tal pretensão.
A memória de PORTUGAL ETERNO impõe-no, exige-o veementemente, numa revisão de processos a que a História há-de proceder.

A recolha de 4 mil assinaturas promoverá a petição colectiva,ao abrigo do disposto na Lei nº 43/90, publicado no Diário da República I Série nº 184 de 10 de Agosto de 1990 com as alterações introduzidas pelas Leis nºs. 6/93 e 15/2003 , publicadas respectivamente nos Diários da República I Série A nº 50 de 1 de Março de 1993 e nº 129 de 4 de Junho de 2003.

Mandatários da Petição : Mário Ângelo Leitão Frota, BI 643447; Maria do Céu Anjos Simões Hall Castelo-Branco,BI 7592408; Luiz Filipe Simões Hall Castelo-Branco, BI 7702695; Sónia Luisa de Campos Cunha da Costa Branco de Sousa Mendes, BI 7481691; Rui Alberto Simões Hall Castelo-Branco,BI 7857312; João Tiago Castelo-Branco Charula de Azevedo,BI 10674996; Pedro Nuno Castelo-Branco Charula de Azevedo, BI 11135861; Ana Maria Magalhães Carvalho, BI 1305735; Óscar Simões de Oliveira, BI 7198259; Tiago Miguel Neves Moura Ferreira, BI 11541781; Joana Rita Castelo-Branco Charula de Azevedo, BI 11888902; Luís Henrique da Silva Carvalho,BI 7512833; Maria Celmira Pereira Bauleth (Riquita), BI 7949660.
Sincerely
The Undersigned
View Current Signatures
.....................................................................

"The PETIÇÃO "APELO À VERDADE SOBRE A DESCOLONIZAÇÃO" Petition to Senhor Presidente da Assembleia da República Portuguesa was created by OK and written by Mário Leitão Frota e Maria do Céu Anjos Simões Hall Castelo-Branco (ccastelo-branco@netvisão.pt). This petition is hosted here at www.PetitionOnline.com as a public service. There is no endorsement of this petition, express or implied, by Artifice,Inc. our sponsors. For technical support please use our simple Petition Help form.
Send this to a friend"
.................................
-- (De :http://new.petition.com/verdade/petition.html -- 2005 --

==============================================

--- NOTA : - (para LER - INSCREVER e DIVULGAR entre os interessados ou mais afectados pela "desgraçada descolonização exemplar" ---
--- Se o desejar pode ainda contactar directamente para : sourreia@gmail.com ---
...........................................................
================================================

-- MENSAGEM QUE SE ENVIA "PARA TODOS" E RELATIVA À PETIÇÃO : "APELO À VERDADE SOBRE A DESCOLONIZAÇÃO" : --

--- AMIGOS "CIBERNAUTAS" : BOM ANO PARA TODOS. DIZ O POVO SÁBIO "ANO NOVO, VIDA NOVA". HÁ MAIS DE TRINTA ANOS QUE OS GOVERNOS SE TÊM MOSTRADO "ESQUECIDOS" OU INDIFERENTES ÀS TRÁGICAS CONSEQUÊNCIAS DA "DESGRAÇADA DESCOLONIZAÇÃO EXEMPLAR". AS PROMESSAS ELEITORALISTAS FORAM FECHADAS NAS GAVETAS MINISTERIAIS, TALVEZ NA INTENÇÃO DE ALI FICAREM TRANCADAS PARA SEMPRE. MAS, A HISTÓRIA NÃO SE APAGA, NEM PODE SER ESQUECIDA. ENQUANTO TODOS OS PAÍSES "EX-COLONIALISTAS" PROCEDERAM ÀS COMPENSAÇÕES DEVIDAS AOS SEUS EX-RESIDENTES ULTRAMARINOS, PORTUGAL (ADORMECIDO, VANGLORIANDO-SE DE EXEMPLAR), MANTEVE-SE ALHEIO A ESSA SUA OBRIGAÇÃO.
TERMINADO O "FOLCLORE" DA U.E., ESTÁ NA HORA DE SALDAR AS CONTAS QUE, COM UMA POLÍTICA DESORIENTADA OU ATÉ POUCO ESCLARECIDA, LANÇOU OS SEUS CONCIDADÃOS EM SITUAÇÕES POR VEZES BEM COMPLICADAS. SE EXISTEM ENORMES VERBAS COMUNITÁRIAS PARA TANTAS COISAS (POR VEZES DUVIDOSAS), ONDE ESTÃO AS VERBAS HUMANITÁRIAS ? UMA POLÍTICA SÉRIA E HONESTA JÁ HÁ MUITO AS DEVIAM TER ATRIBUÍDO ÀS VÍTIMAS (OU AOS SEUS DESCENDENTES) DAS TREMENDAS DESGRAÇAS QUE PROVOCARAM ! É TEMPO DE UNIÃO E DE MOSTRAR MAIS UMA VEZ COMO FOMOS CAPAZES DE ADMINISTRAR OS "IMPÉRIOS" (DOS OUTROS)!
EXISTE HÁ ALGUM TEMPO A PETIÇÃO "APELO À VERDADE SOBRE A DESCOLONIZAÇÃO" (VER EM --- http://descolonizacao.net --- OU --- http://new.petitiononline.com/verdade/petition.html --- OU AINDA EM : --- trenguices.blogspot.com/2005/11cheque-mata.html ---) DA INICIATIVA DE DIVERSOS MANDATÁRIOS, ENCABEÇADOS POR : MÁRIO FROTA E MARIA DO CÉU CASTELO-BRANCO, DIRIGIDO AO SR. PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA. PORÉM, NECESSITA DE MUITAS MAIS INSCRIÇÕES. BASTA "CLICAR" INDICANDO O NOME COMPLETO E O Nº DO B.I.
VAMOS A ISSO ! VAMOS EM FRENTE ! PARA PREPARAR O PRESENTE E O FUTURO É CONVENIENTE OLHAR PARA O PASSADO. NA MINHA MODESTA COLABORAÇÃO ASSIM O TENHO TENTADO COM OS TEMAS :"ANGOLA-DATAS E FACTOS" ; "ANGOLA - UM PASSADO SEMPRE PRESENTE - MEMÓRIAS" E AINDA "ANGOLA/ BRASIL/ PORTUGAL - UMA VIAGEM AO LONGO DOS TEMPOS" --, DISPONÍVEIS NOS "SÍTIOS" : http://angola.do.sapo.pt --- ou --- http://angola-brasil.blogspot.com --- COM VÁRIOS TEXTOS E TRASNCRIÇÕES SOBRE O REFERIDO TEMA E AINDA PARA AS V/ COLABORAÇÕES E MESMO PARA AS NOVAS INSCRIÇÕES A REMETER AOS MANDATÁRIOS DA PETIÇÃO.
DIREMOS "PRESENTE" EM MEMÓRIA DO "PASSADO" E NA DEFESA DO "FUTURO" DOS NOSSOS DESCENDENTES !

--- ROBERTO CORREIA - (SOURREIA) -- 01/01/2008 -- (sourreia@gmail.com )--

==========================================

--- --- LISTA DAS INSCRIÇÕES JÁ ENVIADAS PARA OS MANDATÁRIOS DA PETIÇÃO ACIMA REFERENCIADA : --- ...(Em organização ) --
...........................................................

==== AINDA SOBRE ESTA QUESTÃO DAS INDEMNIZAÇÔES NÃO PAGAS AOS EX-RESIDENTES ULTRAMARINOS NAS ANTIGAS "COLÓNIAS" PORTUGUESAS CONSULTE NA INTERNET OS SEGUINTES "SÍTIOS" DO "DIÁRIO DE NOTÍCIAS", (DIVULGADAS EM 23/02/09) :

dn.sapo.pt/2009/02/23/editorial/indemnizacoes_africa_processo_compli.html

dn.sapo.pt/2009/02/23/nacional/espoliados_decadas_a_espera_indemniz.html

==============================================
..........................

=== ALGUMAS NOTAS DO AUTOR EM APRECIAÇÃO AOS FACTOS JÁ DESCRITOS :

-- Os primeiros ex-residentes ultramarinos chegaram a PORTUGAL em JUNHO de 1974, na maioria provenientes da GUINÉ e de MOÇAMBIQUE.
Para os acolher e na expectativa de que chegassem muitos outros foi então criado o "GRUPO DE APOIO AOS DESALOJADOS DO ULTRAMAR" (GADU).

-- 1975 - MARÇO - 31 - O Decreto-Lei nº 169/75 cria o "INSTITUTO DE APOIO AO RETORNO DE NACIONAIS" (IARN).
-- 1975 - JUNHO - ?- O IARN inicia a evacuação de desalojados ultramarinos com destino a PORTUGAL, tendo sido instalada uma "PONTE AÉREA", com base nas cidades de LOURENÇO MARQUES,LUANDA E NOVA LISBOA (esta de início apenas servindo de ligação para LUANDA, com acentuada colaboração de MOÇAMBIQUE.

-- 1975 - OUTUBRO - - Foi criada a SECRETARIA DE ESTADO DOS RETORNADOS, funcionando anexa ao "MINISTÉRIO DOS ASSUNTOS SOCIAIS", servindo de tutela do IARN.

-- 1976 - ABRIL - Numa Ponte Aérea ("reduzida")chegaram a LISBOA mais 11.000 pessoas de ANGOLA e 30.194 de MOÇAMBIQUE.
-- 1976 - AGOSTO - Desde JANEIRO de 1975 foram pagos 887.116 contos de Subsídios de Emergência.
-- 1976 - SETEMBRO - 10 - Extinsão da "SECRETARIA DE ESTADO DOS RETORNADOS", substituída pelo "COMISSARIADO PARA DESALOJADOS", sob responsabilidade do Tenente-coronel GONÇALVES RIBEIRO, com comissões regionais, distritais e municipais.
-- 1976 - NOVEMBRO - Desde JUNHO de 1975 o "IARN movimentou" um total de 275.599 pessoas, sendo : - 173.982 pela "PONTE AÉREA" , utilizando 905 voos entre NOVA LISBOA / LUANDA e PORTUGAL (LISBOA e outros aeroportos nacionais).
Também chegaram a PORTUGAL mais 101.617 indivíduos sem utilização desses voos do IARN, talvez por antecipação ou receio das demoras então verificadas.

-- 1976 - DEZEMBRO - Existiam em PORTUGAL 1.457 locais (e postos) com ex-residentes ultramarinos onde estavam instaladas 71.568 pessoas subsidiadas pelo IARN, sendo cerca de 50% na área de LISBOA. Existiam 4.000 pedidos para Habitação cujas respostas foram quase nulas !
Entretanto, face as imensas carências (e resistências) nacionais ou locais, emigraram 12.642 pessoas, sendo 94,2 % para o BRASIL !...
-- É de salientar ainda que, dos muitos milhares de automóveis existentes em ANGOLA, apenas chegaram a PORTUGAL 22.774 viaturas ! Muitas delas "passaram para as mãos de novos proprietários" ou foram simplesmente abandonadas, até porque eram imensas as dificuldades do seu embarque,não obstante as promessas e compromissos que os políticos e governantes portugueses tinham assumido !...

-- Um Recenseamento à responsabilidade do COMISSARIADO, abrangendo cerca de 500.000 ex-residentes ultramarinos, constatou a existência de 71.568 funcionários públicos e de mais de 110 mil desempregados (estavam registados 120.733 processo de desemprego). Foi atribuído um total de 3.209.540 contos de subsídios de desemprego e 348.257 contos de abonos de família.

-- 1979 - Extinsão do COMISSARIADO PARA DOS DESALOJADOS.
..............................................

--- OBS. : -- Estas informações basearam-se ainda em elementos extraídos do "Sítio" (com acesso directo ao seu conteúdo em) :
espoliadosultramar.com/ip9 ---
donde se podem obter diversas e valiosas informações muito mais completas, como por exemplo estas oportunas e interessantes transcrições que, de momento, tomamos a liberdade de efectuar :

--- ..."BOAS VINDAS : - Se nos visita como espoliado do ex-Ultramar,seu familiar,herdeiro, amigo de alguém espoliado com o simples e louvável desejo de conhecer como decorreu o abandono do Ultramar, chamado de "descolonização", com o sacrifício de centenas de milhar de seus compatriotas, aqui lhe expressamos as mais cordiais saudações, solicitando a sua valiosa e activa ajuda para uma maior divulgação deste site . Bem haja!"...
-- (em :"A IMPRENSA E OS ESPOLIADOS DO ULTRAMAR", de ANGELO SOARES!) --

--- ... "É justo endereçar aos desalojados o êxito da integração. Perante a adversidade, agiram com determinação, como já tinham demonstrado em África; mostraram competência, melhoraram todos os sectores no País como alavanca de progresso e substituíram o estigma de retornado, que quizeram colar-lhe em título de que muito se orgulham"...
--- (proferida pelo Sr.Dr. J.M.MARQUES LEANDRO, ex-Secretário de Estado de Administração Local) --

--- ..."Neste contexto, o Estado descolonizador, ou seja, o Português, tem a obrigação de indemnizar os espoliados de África, uma vez que a mudança do Poder político, de que foi um dos interventores, foi a causa dos danos materiais verificados"...
-- ( de : MÁRIO SILVEIRA DA COSTA, em Jornal "Correio da Manhã", de 08/05/96) --

=========================================================

====== AVISO : "DEVOLUÇÃO DE DESCONTOS DA EX-ADMINISTRAÇÃO ULTRAMARINA" ====
Do blog ANGOLABRASIL