quarta-feira, 10 de novembro de 2010

RITA GARCIA: novos escritos especulativos sobre a vida de portugueses no Ultramar, publicados na Revista "SÁBADO",nº 339,de 28/10 a 3 de Novembro de 2010



Uma capa de revista bastante sugestiva mas nada condicente com a "realidade" que pretende fazer passar. Assim se faz jornalismo em Portugal...Análise extremamente redutora daquilo que foi a vida em África, daqueles que "retornaram"de África... Por ignorância ou má fé, a vida de todos é aqui  reduzida aos modos de ser e estar de uns poucos...






"OS ANOS DOURADOS DOS PORTUGUESES EM ÁFRICA"... "MEMÓRIAS DE COMO ERA O DIA A DIA DOS PORTUGUESES"...  "A VIDA EM ÁFRICA  ERA ASSIM"...

 
Segue a tomada de posição de Roberto Correia,  pessoa esclarecida na matéria,   conhecedor de cidades e sertões, que na época colonial foi colaborador dos jornais “A HUÍLA” (e mesmo redactor), dos “NOTÍCIAS da HUILA”, “O NAMIBE”, “A VOZ DO PLANALTO”, “A PROVÍNCIA DE ANGOLA” e do “JORNAL DE ANGOLA”, da ASSOCIAÇÃO AFRICANA (em Luanda, de que foi ainda membro da direcção e colaborador da Liga Nacional Africana), usando sempre o  pseudónimo “Sourreia”;  publicou diversas obras literárias sobre a História de Angola:


A propósito de um artigo e da capa, assim intitulado, na Revista "Sábado", n.339, de 28/10 a 3 de Novembro de 2010, diremos o seguinte:


1) - Assim como a maioria dos meus familiares e dos milhares de conhecidos, colegas e amigos, nascemos em ANGOLA,onde antes de 11/11/1975 (antes da revolução), éramos "TODOS PORTUGUESES" (além de verdadeiros "ANGOLANOS", fruto de algumas gerações de três Continentes (EUROPA - AMÉRICA DO SUL(BRASIL) -- ÁFRICA).

2) - Muitos outros milhares de residentes então em ANGOLA (não me vou referir aos outros territórios ex-ultramarinos, onde nunca vivi), eram PORTUGUESES CONTINENTAIS, que, em pouco tempo,se tornavam como verdadeiros Angolanos !

3) - Não eram, então, também "PORTUGUESES" apenas os "BRANCOS" nascidos em ANGOLA !

4) - Não sei, não faço ideia,onde nasceu ou viveu a jornalista RITA GARCIA, autora do artigo (reportagem/Destaque)acima referido. Até gostava de saber...

5) - Como "ANGOLANO / PORTUGUÊS", descendente de algumas gerações nascidas e vividas em ANGOLA, assim como muitos dos meus diversos familiares, dos amigos e dos conhecidos, NÃO DEVO, NEM POSSO, deixar de manifestar a minha parcial discordância com o conteúdo e espírito do mencionado artigo (reportagem, que nem sabemos como foi efectuada! ).

6)  ANGOLA,embora com uma faixa marítima bastante extensa, apenas tinha (e tem ainda) poucas cidades e poucas vilas ou povoações importantes junto desta. Assim,alguns milhões dos seus habitantes naturais,algumas centenas de milhares dos "PORTUGUESES" até então ali residentes, viviam no seu imenso interior (várias vezes superior ao território português na Europa), 
instalados até a muitos quilómetros da costa marítima. Residiam e viviam no "SERTÃO", no "MATO". Muitos deles permaneceram anos a fio sem ...irem à cidade"...! Estavam mesmo muito longe das praias ! Praias, só conheciam as dos rios e tinham jacarés !... Nem andavam ..."em caçadas de elefantes e leões"...! Tudo isso era então muito bem controlado e vigiado por fiscais próprios e pelas leis em vigor. A sua conservação era respeitada. Não eram então dizimados por armas de guerras ("coloniais ou civis"), ou de ricos turistas de ocasião, como aconteceu depois de 1974/75 !

7) - Poucos locais "adequados" existiam e nem todos os PORTUGUESES andavam em paródias ou noitadas de fins-de-semana em..."clubes exclusivos e festas na praia"...! Era uma população trabalhadora (não havia desempregados permanentes, nem subsidiados profissionais). Também essas leis eram respeitadas.

8 ) - Quanto ...às "boas casas, com espaço, jardim e criados para os servir"...nem só alguns dos ditos PORTUGUESES (ULTRAMARINOS) eram seus exclusivos possuidores ou utilizadores legais. Isso era comum, necessário, conveniente até para os próprios trabalhadores. Esses PORTUGUESES não tinham, na sua grande maioria, automóveis de luxo, nem motoristas privativos...como alguns dos grandes senhores e os "Continentais" (cá por estas bandas)!

9) - Tudo isso também já se verificava no CONTINENTE e com proventos bastante semelhantes ! Muitos anos antes, as construções (as residências) dos PORTUGUESES em ANGOLA tinham,obrigatoriamente, uns anexos com quarto(s) e sanitários para o(s) criado(s), mesmo dentro das cidades ! As tais..."boas casas com espaço, jardim (até com piscina privativa) também se encontram hoje em muitas zonas deste "pobre" país, pertencentes aos Continentais,(I) Emigrantes ou não, bastante valiosas e, em muitas delas,se realizam as tais ..."FESTAS"... e nem precisam de outras praias em fins-de-semana (em especial nos prolongados por modernas "pontes horárias",ou até mesmo sem serem de "surpresa",dos amigos (de ocasião ou à espreita de certas oportunidades ou favores,nem que sejam "inimigos disfarçados de outras mais adequadas cores"...e numa mais do que conivente ..."ERA DOURADA" !

10) - Por lá, ANGOLA desses tempos "dourados", muito boa gente, já com certa idade, nunca tinha visto uma "PRAIA", tal a imensidão do território. E muito menos tinha sido beneficiado com..."um pires de marisco (de camarão ou outro) à borla, nem mesmo duma cerveja fresca em zonas em que ainda nem havia electricidade, nem "geleiras" domésticas ! Normalmente nem eram pires de "camarões" à borla mas sim, de tremoços ou ginguba. Pelo contrário, viviam quase isolados, carentes, passando privações, sem qualquer "assistência social". Eram terras de trabalho duro e de boas produções e não de "farras", regabofes, festivais, etc. Eram trabalhadores sérios, honestos, patrióticos, que acabaram sendo traídos e nunca recompensados !

11) - ANGOLA, na sua maior parte, a grande ANGOLA, era a "ÁFRICA MISTERIOSA", a verdadeira ÁFRICA, não só de "Elefantes e Leões", que nos velhos tempos desciam aos povoados, ás cidades (até à LAGOA DE KINAXIXE, então nos arredores de LUANDA). sendo conveniente caçá-los.

12 ) - Os outros "caçadores", amigos ou familiares dos "VINHAS", dos "MELOS" e doutros ilustres "continentais", eram abastados turistas, fazendo esquecer os esfarrapados "pumbeiros" do sertão ou os caçadores furtivos de marfim, associados aos grandes chefes locais !

13) - O imenso título "MOÇAMBIQUE" aplicado por cima duma enorme foto de alguns veraneantes na ILHA DE LUANDA  (pág. 48 da citada Revista), está mesmo... "a matar" ! 

Diremos então que... ANTES NÃO ERA ASSIM"...!

14) - CONCLUINDO : - RITA GARCIA... "A VIDA EM ÁFRICA... (NÃO) ERA ASSIM"... como descreve! Vamos falar verdade! Seja humilde, peça desculpas aos muitos milhares de PORTUGUESES ULTRAMARINOS que ofendeu !...


P.S. - (artigo será transcrito na minha "secção gmail, estando ao dispor no meu blogue http://angola-brasil.blogspot.com   COIMBRA, 31/10/10 - Roberto Correia -- (sourreia@gmail.com)


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Também sobre o artigo e a capa da Revista "Sábado", n. 339, de 28/10 a 3 de Novembro de 2010, segue outra tomada de posição:
 

"Chega-me a revista portuguesa Sábado (nº 339, 28.10.2010) com uma reportagem de Rita Garcia mais ou menos intitulada “A vida em África era assim” (estas ligações são muito perecíveis, mas por enquanto funcionará).  A capa da revista (de expressão nacional) é-lhe dedicada e a coluna do director (“Bastidores” de Miguel Pinheiro) também, tornando-a matéria central desta edição semanal. O tom ordinário da revista nota-se logo na forma como é apresentada a reportagem: tem quatro títulos, um na capa ["Os anos dourados dos portugueses em África"], um outro no índice ["A vida em África antes da independência"], outro na coluna do director Miguel Pinheiro ["Memórias de África"] e outro ainda na reportagem propriamente dita [a paginação dificulta a sua consideração mas eu arrisco "A vida em África ... era assim"]. Agora venham-me dizer que são “opções” … então e como se chama aquilo? Mas se isso é o tom da revista mais pungente ainda é a radical mediocridade preguiçosa do texto: a enésima abordagem ao rame-rame da cerveja Cuca, as festas liberais, o camarão que vinha oferecido com a imperial, as caçadas, o criado doméstico. Tudo isto é o tudo no qual “Todos os portugueses que conversaram com a repórter da Sábado coincidiram nas recordações daqueles tempos.“, afirma o orgulhoso director. Uma mera reportagem de revista não é um ensaio histórico mas não se restringe obrigatoriamente a tamanha mediocridade (e a um “mundozinho” informante).
Paupérrimo trabalho."

By JPT:  http://ma-schamba.com/937277.html

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Outra tomada de posição relacionada com o artigo e a capa da Revista "Sábado", n.339, de 28/10 a 3 de Novembro de 2010:

 

"Tenho lido com alguma frequência que Angola era uma terra cheia de oportunidades, o que realmente é verdade, não deixa contudo de ser puro engano dizer-se que bastava alguém ser bom trabalhador para enriquecer.

Li recentemente um livro cujo autor diz ter vivido alguns anos em Angola e espanta-me que também ele ajude a passar esta ideia enganadora. Embora seja um romance e por isso à partida classificado de pura ficção, não deixa contudo de cair neste erro. Lê-se ali que um casal chegado a Luanda, em pouco tempo já tinha negócios espalhados por toda a cidade e logo a seguir pelas principais cidades de Angola, isto sem falar da compra de uma "casa" na Vila Alice.

Não espantava se esse casal fosse endinheirado e procurasse Angola para investir, o que não é o caso. Por vezes parece que existem duas Angolas diferentes, aquela que eu e a maioria conhecemos e uma outra, onde se chegava e se encontrava prontamente uma "àrvore das patacas" e se enriquecia duma hora para a outra. Eu nasci em Angola e embora houvesse diferenças de classes como na maioria dos países, a verdade é que era necessário muito trabalho para se viver com algum desafogo e a maioria pode atestar que também não dava para se fazerem muitas "avarias".

Assim, das duas uma, ou eu e muitos outros fomos pouco inteligentes e nunca soubemos ver os "grandes negócios", ou simplesmente nunca encontramos a tal " árvore das patacas".

É bom que se diga a verdade, era uma linda terra, um povo hospitaleiro e humilde, mas quem começasse do nada como o meu pai e muitos outros que ali chegaram na década de 50, mesmo com muito trabalho, nunca chegaram a ter essa tal vida faustosa que se encontram ilustradas nalguns romances.
Lá como cá, se houvesse respeito pelo "próximo", creio que as oportunidades eram iguais!"


Facra Rone in Cubatangola                                                                                
                                                                 
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Depois de ter publicado aqui algumas tomadas de posição sobre esse artigo e capa da Revista "Sábado", n. 339, de 28/10 a 3 de Novembro de 2010, subordinado ao título "OS ANOS DOURADOS DOS PORTUGUESES EM ÁFRICA", "MEMÓRIAS DE COMO ERA O DIA A DIA DOS PORTUGUESES"  ,"A VIDA EM ÁFRICA...ERA ASSIM"...
resolvi voltar aqui para acrescentar algo mais:

Costuma-se dizer "Quem não se sente não é filho de boa gente!".  E o problema é que à boa gente quando sente, logo vem outra gente replicar em tom de crítica: "Os retornados ainda não se libertaram de ressentimentos!..." Mas o que querem então? Que nos acobardemos no silêncio, quais párias expurgando os pecados da Pátria?

Não entre por aí  Rita Garcia. Não se trata de ressentimentos. Trata-se, sim, da vontade de ver assunto tão sério como este, tratado com seriedade. E não é sério abordá-lo assim, começando por ilustrá-lo com uma capa  representativa de uma ínfima parcela da população branca que vivia em Angola, como se a sua vida ali fosse uma "Dolce Vita", um "Farniente". 

Rita Garcia foi mais longe que Jesus Cristo quando fez o milagre dos pães. Conseguiu através de um conjunto de palavras transformar uma realidade que não abrangia mais que uma facção mínima da população branca de Angola, em uma outra realidade digna de tal ilustração. Ou seja, através de um trabalhinho feito a correr, num meio pequenino de informantes, reduziu a "vida em África" a  uma meia-dúzia de estereótipos já cansados de usados, que mais fazem lembrar os atribulados tempos do PREC!

Mas há mais. Os truques são sempre os mesmos. No outro dia entrei numa livraria e vi um livro que me chamou a atenção. Porquê?  Pela capa! Era mais um livro especulativo sobre a vida dos portugueses em África. Junto a um descapotável, um casal beneficiava de uma sombra amena enquanto um rapazinho africano, ao lado, muito direitinho e com ar respeitador, de plantão, segurava um guarda sol.

Conforme John F. Kennedy: "O grande inimigo da verdade, muitas vezes não é a mentira - deliberada, compulsiva e desonesta, mas o mito persistente, persuasivo e irrealista. Acreditar em mitos dá o conforto da opinião sem o desconforto do pensamento." E todos sabemos, o quanto uma não verdade centenas de vezes  repetida, acaba por tomar o lugar de uma verdade.

Informar exige um código de honra, exige ética, exige acima de tudo estar por dentro das situações. Tomar a parte pelo  todo, ou o todo pela parte, se não é  ignorância, é intenção!

Na reportagem «Os anos dourados da vida do portugueses em terras de África», não passa despercebido o tom jocoso utilizado, o palavreado provocador e leviano dirigido a pessoas sérias, honestas, cuja vida era na sua maioria de trabalho duro e de sacrifícios, e não de "farras", regabofes, festivais, etc. Gente que nunca enriqueceu (pudessem vir a público as suas contas bancárias, seriam reveladoras),  gente que trabalhou duro,  que sofreu privações, que ajudou a erguer cidades,  que acabaram sendo traídas e nunca recompensadas!  Gentes que honraram Portugal, e que um dia tiveran que que partir de mãos vazias e coração desfeito, e pior ainda, transformadas em "bodes expiatórios" de todos os males, talvez para disfarçar seculares incompetências.

Porquê esta sede de escrever sobre aquilo que praticamente se desconhece, ou se conhece muito pouco? Porquê esta vontade de fazer passar por realidade aquilo que não passa de pura ficção. Não se sabe, inventa-se! O que leva as pessoas  a um tipo de abordagem como esta? Objectivos puramente materiais? Ganhar uns cobres à nossa custa?  Especulando, vende-se mais! É isso?

Os nossos tempos pecam pelo radicalismo dos discursos, pela análise especulativa das situações, pela ambição de brilhar a todo o custo, pela avidez do ganho, pela falta de empatia , essa grande qualidade tão necessária, que nos permite vestir a pele do outro, compreender suas ideias,  compartilhar os seus sentimentos e reacções. Como se desiludiriam os que assim escrevem, se estivessem devidamente documentados sobre a realidade da vida das pessoas em Angola,  dessa Angola imensa e profunda, e não reduzissem a sua perspectiva à vida de um determinado estrato social, bastante restrito, reduzido à capital, ou pouco mais ou menos. Fala-se de Angola como se todos fossem burgueses e pequeno-burgueses. O desconhecimento é tal que sequer se dão conta de quão redutora é a  sua perspectiva.   E como seria fácil fazer cair por terra todas as idealizações... Convido Rita Garcia a pegar seriamente neste assunto. Quero acreditar que se vier a fazê-lo, irá um dia compreender o verdadeiro sentido desta mensagem!

Gostaria de acrescentar que sou alguém nascida em Angola,  filha de pais nascidos em Angola no inicio do século XX, neta e bisneta de avós e bisavós, simples emigrantes que um dia, em finais do século XIX,  resolveram partir, incentivados por campanhas de sensibilização,  rumo ao sul de Angola, em busca de uma vida melhor que a mãe Pátria lhes negava.  Alguém que pot isso mesmo nunca se identificou com o rótulo de "retornado", mas que também nunca teve em relação a tal rótulo algum ressentimento. Era-lhe indiferente!     E era-lhe indiferente porque uma verdade é incontestável, quem algum dia viveu naquelas paragens, pobre ou rico, passa forçosamente a ver a vida com outros olhos. Os seus horizontes jamais serão comportáveis em espaços exíguos, a sua mente estará mais aberta a grandes dimensões...

Para quem estiver interessado a esclarecer-se sobre a colonização/descolonização, recomenda-se esta série de textos de 1 a 9 a iniciar aqui: http://psitasideo.blogspot.pt/2009/06/os-ossos-da-colonizacao-1.html

E ainda esta série de artigos:
 http://psitasideo.blogspot.pt/2009/02/os-esqueletos-nos-armarios.html



1 comentário:

ângelo c. o. soares disse...

Chamaram~lhes retornados, quando muitos dêles eram já a terceira ou quarta geração de portugueses nasciddos e creados nas colónias, depois transformadas em PRO
VÍNCIAS ULTRAMARINAS. Mais de 100 000 Famílias lá deixaram todos os bens, as economias de muitos anos de trabalho e desesperam após 37 anos de espera. Visite com atenção e divulgue
os itens 64 e 66, de www.espoliadosultramar.com