sábado, 5 de novembro de 2011

Do Jornal de Angola Online: Lubango no coração dos portugueses

Artigos
Muanamosi Matumona | em Lisboa

Lubango no coração dos portugueses

13 de Agosto, 2010
Noto que já lá vão anos em que a cidade de Lisboa continua a mesma, pois, uma vez posto cá, vive-se o ritmo de sempre, cruzamo-nos com as mesmas pessoas e também as conversas acabam de ser as mesmas. Porém, são inegáveis as novidades que a capital portuguesa registou, pois já lá vão os tempos em que a capital lusa era encarada como uma zona satélite de grandes cidades europeias, como Madrid, Paris, Londres, Frankfurt, Roma, etc.
Hoje, mesmo mantendo a sua “espiritualidade”, notam-se sempre nela ares de mudanças, bem configurados em grandes novidades que fazem dela uma cidade do século XXI. A rede metropolitana já foi alargada, a economia vai resistindo face à crise internacional que assola todo o mundo, os turistas vão aparecendo em massa nesta época do ano, o número de africanos vai diminuindo paulatinamente, pois as obras, que constituíam uma grande ajuda para muitos deles ganharem o pão à custa do seu suor, já não aparecem com muita facilidade. Isto demonstra, realmente, que Lisboa cresceu, houve investimentos para melhorar a sua imagem e agora é tempo de apostar noutros desafios, sempre dentro dos cânones da modernidade. Por isso, fala-se, hoje, de um Portugal moderno e global...
Neste prisma, vê-se, hoje, um Portugal mais virado para uma das suas antigas colónias: Angola, que durante o tempo colonial era vista como a “menina bonita” dos conterrâneos de Camões. A independência traçou um destino diferente e a História de Angola teve de ganhar outros contornos, “empurrando” Portugal para o seu devido lugar, pois o povo angolano, com a independência, ganhou respeito e maturidade para caminhar de uma forma mais solta. Enquanto o então império português se via reduzido, e confinado dentro do seu pequeno, mas grande mundo, os portugueses tiveram que cair no real, tomando consciência da nova página da História tanto do seu país como de Angola.
Agora, fala-se da cooperação, do diálogo, do respeito mútuo. Mas fala-se, também, do regresso à Angola querida. Ontem, era uma Angola dividida, cansada, abalada, sofredora, porque vítima de uma guerra cruel que ceifou vidas e destruiu muitas infra-estruturas, forçando o país a atrasar-se na corrida para o progresso e desenvolvimento. Registava-se, na altura, uma grande “fome” e “sede” da paz e da democracia. Hoje, tudo passou e vive-se uma era nova, uma Angola nova, sendo um país apostado a acolher tudo e todos, num momento crítico da História, pois todos os povos e nações gritam como um “diabo” atormentado no fogo do inferno. Tudo por causa da crise económica que está a ameaçar todos os países. Ricos e pobres.
É, justamente, neste contexto que os portugueses estão a manifestar, cada vez mais, o interesse em regressar, ou instalar-se, em Angola para encontrar meios necessários para escapar à crise que está a afectar o seu país. Isto não constitui qualquer novidade, pois portugueses e angolanos bem sabem da realidade que está a marcar, hoje, os dois países. Nesta perspectiva, sempre que visito a terra de Camões, registo sempre versões, episódios, experiências, histórias, emoções bem diferentes... Interpelações não têm faltado, pois as movimentações dos nossos irmãos portugueses para o país de Ngola Kiluanji, Nzinga Mbandi, Nzinga Kuvo, Mandume, Ekuiki, são constantes. E quando isto acontece, a alegria tem sido sempre bem visível no seu rosto. Formidável, esta operação, que faz com que diariamente os voos Lisboa/Luanda/Lisboa estejam sempre cheios.
“Agora é Angola que está a dar...”, “Portugal e os portugueses estão muito cansados”, “Vamos para Angola trabalhar e ganhar muito dinheiro”, “Viva a ‘nossa’ Angola”, “Para frente, angolanos”, “Angolanos e portugueses de mãos dadas”, etc., são as frases que estão a sair, actualmente, da boca dos portugueses quando se preparam para ir explorar ou sondar o terreno. Desta vez, foi na Parede, nos arredores de Lisboa, que encontrei uma senhora portuguesa, com os seus dois filhos, despedindo-se das religiosas que gerem o centro infantil onde estudam os meninos. A senhora foi informar a direcção que os seus filhos não aparecerão na escola quando começar o novo ano lectivo.
Bem animada, a senhora explicou, religiosamente, o motivo desta decisão. Com uma voz serena, disse ela, contemplando o local que já não verá diariamente, como era antes, quando quase todos os dias ia deixar e recolher os seus dois rebentos: “O meu marido já tinha enviado a carta de chamada. Já temos visto e ainda esta semana estaremos em Angola, mais concretamente na cidade do Lubango, onde ele trabalha numa empresa portuguesa, a ganhar muito bem. A nossa vida vai mudar. Lá teremos tudo. Sinto-me feliz graças a este país que em tempos idos era a nossa província. Estou bem feliz, pois a cidade do Lubango está no meu coração e no dos outros conterrâneos que já lá estão e no dos que se preparam para também para ir para lá. A nossa vida vai mudar. Viva Angola!”.
Impressionante esta revelação, que me deixou sem palavra! Sinceramente, limitei-me a ver e a ouvir atentamente a senhora, que não escondia a sua alegria e não se cansava de elogiar os passos que Angola continua a dar rumo ao seu desenvolvimento e, consequentemente, à consolidação da paz. Depois desta visita que efectuei àquela comunidade religiosa, não me canso de meditar sobre a atitude desta senhora. Sem qualquer preconceito, nem tão-pouco espírito de vingança e também sem ressentimentos nem complexos, a única conclusão a que cheguei é esta: os portugueses gostam mesmo de viver em Angola.

1 comentário:

Bárbara Sereno disse...

Olá! O meu é Bárbara e sou uma jovem estudante de jornalismo. Toda a família da minha mãe veio de Angola e eu estou neste momento a fazer um trabalho de escola sobre a integração dos “Retornados”, refugiados de África, em Lisboa. Estou interessada especialmente em pessoas que tiveram de viver em pensões e em hotéis nos primeiros meses ou anos em Portugal. Na minha pesquisa encontrei o seu Blog, e gostava de lhe perguntar se tem algum contacto de pessoas que estiveram em pensões ou hotéis em Lisboa depois de regressar de África e que poderão estar interessadas em falar sobre isso. Apesar de isto ser um trabalho de escola, deverá ter, no futuro, um plataforma on-line. Obrigada pela atenção, agradecia muito a sua ajuda.

Contacto:
barbara.sereno@hotmail.com