CUMPRIU-SE O MAR E O IMPÉRIO SE DESFEZ... A História magoa. A independência das colónias forçou meio milhão de portugueses a tomarem parte numa ponte aérea que os desembarcou em Lisboa trazendo a amargura na bagagem e tendo de se adaptar a uma terra que, em muitos casos, não conheciam. Este blog fala de retornados, espoliados, de gente que perdeu as suas casas e os seus bens, e que, sem receber quaisquer indemnizações do Estado português, continuam nos seus sonhos a revisitar África.
terça-feira, 11 de novembro de 2008
O PARTO DE ANGOLA
A independência de Angola foi o processo mais difícil, doloroso, complexo e retardado entre as emancipações africanas ao soltarem-se da canga do colonialismo português. Por razões sobejamente conhecidas. Talvez não pudesse ser de outra forma a “perda” da “jóia da coroa”.
O que mais me espantou, entre muitos outros méritos, num livro recém lido de Emídio Fernando (*), foi a leveza, capacidade de síntese documental e testemunhal, mais o rigor distanciado, com que trata e documenta o drama da perda do “diamante colonial”. Sendo o autor um jornalista, nascido em Angola, é um fascínio a leveza não dramática, mas sinaleticamente pontuada, com as linhas de força cruzadas e entrelaçadas, com que Emídio Fernando desdramatiza o drama, e que drama, mais os traumas conexos, tornando-o perceptível como se um mero encadeado histórico se tratasse, apesar da sua complexidade dramática, e ele não fosse mais que a afirmação do inevitável, fórmula abrangente de desdramatizar, mesmo nos seus pontos de absurdo, perfídia e crueldade, pacificando dores e rancores, ao transformá-los, dando-lhes distância, em dados históricos e irreversíveis.
Siga-se o exemplo - para Angola e outras antigas colónias - e, então, podemos estar à beira da necessária e urgente catarse pós-colonial. Obrigado pois.
(*) – “O último adeus português”, Emídio Fernando, Editora Oficina do Livro.
Imagens: A de cima é famosa - um oficial fuzileiro português leva consigo, na retirada em 11 de Novembro de 1975, a bandeira nacional acabada de arrear como símbolo da extinta soberania portuguesa sobre Angola. A de baixo, é um instantâneo do regresso dos "retornados", tentando acarretar com eles, e em caixotes, o máximo dos seus pecúlios acumulados.
Posted by joao.tunes in Agualisa
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário