quinta-feira, 21 de julho de 2011

Poema: ao Bengo (nome de uma traineira)


Bengo,
nome de uma traineira:
partimos do Lobito,
naquela manhã
de sobressaltos e guerra,
rumaste Luanda,
Las Palmas
e Lagos,
teu local da morte
e de sepultamento.
Salvaste nossas vidas...
É verdade!...
E agora?
Vejo-te
baloiçando,
velho,
alquebrado,
esperando a execução
da sentença de morte!
A tua proa
já não cruza
Lobito e Moçâmedes,
como as brancas gaivotas
que,
por ironia,
ainda voam,
procurando refúgio,
no seio dos teus
desventrados beliches.
Agora,
por capricho dos homens,
aguardas as chamas
que hão-de te devorar,
transformando-te
em cinza,
pó e nada...
É assim o teu.Destino,
de todos nós...
Adeus Bengo,
traineira da minha vida!...

Malaquias,
Algarve, ano 1976
Fonte: Romagem de saudade

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