quarta-feira, 6 de abril de 2011

REQUIEM NOS CAIS DE LISBOA!

Foto de Alfredo da Cunha

Desde Belém ao Beato,
Descarregados de botes,
Empilham-se ao desbarato
Muitos milhares de caixotes.
Numa larga, extensa linha,
Ocupam lados e centro
Do cais; mas não se adivinha
O que contêm lá dentro.
— O que será? — perguntei
A dois ou três empregados.
Respondeu um: — P`lo que sei,
É tudo dos retornados.
Exclamei: - Senhor! Senhor!
(E comecei aos pinotes)
Tanta coisa de valor
Metida à força em caixotes!
Onde estão, que descaminho
Levaram (sabe-se lá!)
As estátuas de Mouzinho
E de Correia de Sá?
Quantas camas, quanto berço
Transformado num caixão?
E não há quem reze o terço,
Quem murmure uma oração?...
Desceu a noite. No escuro,
Perguntei, sem ver mais nada:
— E qual será o futuro
Dessa gente atraiçoada?...
Sem consultar um oráculo,
Eu contemplei, indignado,
O pavoroso espectáculo
Dum império encaixotado.

Poema de, António Lopes Ribeiro
In «Resistência», nº 128, 15.06.1976, pág. 6.

2 comentários:

antonio disse...

Passei li e gostei. Parabéns

antonio disse...

Passei li e gostei. Parabéns