sábado, 17 de janeiro de 2009

25A-DESC - ÊXODO DE HÁ 30 ANOS TROUXE ÁFRICA PARA AQUI (GONÇALVES RIBEIRO)


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Memória:

Passam 30 anos sobre o primeiro voo fretado para trazer refugiados de Angola Dezenas de milhares vieram em desespero No fim do império, quase todos tentaram trazer alguns pertences. Por longo tempo, até conseguirem habitação, os seus contentores ocuparam cais e armazéns Tiveram como destino de abrigo a colónia de férias do INATEL, na Costa da Caparica. Chegaram a Lisboa num Jumbo, o primeiro avião especialmente fretado pelo Governo português para transportar os nacionais que quisessem sair dos territórios africanos em vésperas de independência, varridos pela insegurança ou pela incógnita quanto ao futuro. Corria o mês de Maio, era dia 13 e foi há 30 anos. Origem Angola, cuja capital e arredores vinham sendo palco de lutas armadas entre facções e que atingiam civis indiscriminadamente.

Desde o Verão de 74, e sobretudo depois do Acordo de Alvor, muita gente, sobretudo técnicos e quadros superiores, começaram a partir para Portugal, esgotando os voos regulares, depois de filas imensas para obter passagem. Na sequência deste primeiro voo fretado (cujos passageiros eram polícias da PSP e familiares desalojados do bairro do Cazenga), há tentativas para reforçar as ligações aéreas e marítimas com Lisboa. A iniciativa, assumida pelo então tenente-coronel e hoje general na reserva Gonçalves Ribeiro (à data secretário-geral do Alto Comissariado em Angola), só ganhará real eco em Setembro seguinte. Os governos em Lisboa eram instáveis e os meios escassos. Segundo relato de Gonçalves Ribeiro, autor do livro “A vertigem da descolonização- da agonia do êxodo à cidadania plena”, a TAP esgota em Agosto de 1975 a sua capacidade. É o hoje general quem contacta a Embaixada dos EUA para obter apoios de forma a serem fretados mais meios de transporte. Outros países ajudariam neste esforço. Tal permitirá pôr em prática uma das maiores pontes aéreas da História, a partir de Luanda e também do Huambo (Nova Lisboa), onde fora criado um terminal aéreo. A ponte aérea (e também as carreiras marítimas) prolongar-se-ão até alguns dias depois da independência de Angola (11 de Novembro de 75). O resultado desta fuga torna-se visível não só nos aeroportos em Portugal. Terminais de carga marítima e armazéns ficam a abarrotar de contentores (ou melhor, caixotes improvisados de madeira com a identificação do proprietário) e de automóveis chegados no bojo dos porta-viaturas fretados. Entretanto, na falta pelo menos imediata de acolhimento por parte de familiares ou amigos, as pessoas são alojadas em equipamentos colectivos, casas particulares, pensões e hotéis, havendo até recurso aos de quatro e cinco estrelas. Mais de 1.800 estabelecimentos estiveram envolvidos no acolhimento dos retornados, tanto de Angola como de Moçambique. À chegada, era o Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais (IARN) que tratava da fase assistencial, encarregando-se também de organizar o transporte até às terras de origem.

No final de 1976, estando já em funcionamento o Comissariado para os Desalojados, ainda havia quase 72 mil pessoas a viver em mais de 1.400 instalações. Terão saído de Angola para Portugal cerca de 305 mil pessoas entre Maio de 74 e Novembro de 75. O fluxo das ex-colónias continuaria em 76 e 77, nomeadamente de Moçambique. Portugal ganhou, subitamente, mais um quinto de habitantes. O acréscimo ajudou a curto prazo ao rejuvenescimento da população, mas a médio prazo aumentou as dinâmicas de envelhecimento, dado 60% dos retornados serem do sexo masculino e que uma maior escolaridade sempre contribuiu para baixar a fecundidade. Gonçalves Ribeiro Só havia tempo para reabastecer Cerca de 305 mil pessoas abandonaram Angola com destino a Portugal, entre Maio de 1974 e Novembro de 1975. Mais de metade deles deverão as diligências do seu transporte ao hoje general na reserva Gonçalves Ribeiro. Foi perante a sua insistência junto dos governos de Lisboa que, antes da independência de Angola, se intensificaram os voos para trazer multidões desesperadas por fugir dos conflitos. Cerca de 60% deles tinham nascido na então ainda metrópole. Mas Gonçalves Ribeiro, como secretário-geral do Alto Comissariado em Angola, não limitou as suas iniciativas ao convencimento de que Lisboa devia reforçar as ligações da TAP e dar vazão por qualquer meio a uma população em pânico. “Durante a ponte aérea, não havia programação de voos os aviões chegavam, abasteciam-se e partiam”, descreve o general, acrescentando que “foram períodos de uma tensão a raiar os limites de ser suportada”. Na espera, as pessoas até dormiam nos balcões do aeroporto. Foi ele também quem organizou voos internos para resgate de famílias no interior de Angola, bem como a logística de apoio a quem procurava embarcar e despachar os pertences. Contou, para isso, com a ajuda preciosa de voluntários, assim tornados enquanto eles próprios aguardavam transporte, e que não se eximiam a substituir com a força física os guindastes paralisados nos portos. Gonçalves Ribeiro recorda bem como foram gastos as últimas reservas de alimentos da Manutenção Militar: em Luanda, no centro de acolhimento de Belas, chegaram a concentrar-se 15 mil pessoas e as marmitas industriais funcionavam dia e noite. Sobre a impaciência dos que estavam para embarcar, o mesmo responsável diz compreender: “Estavam à espera de tudo porque tinham perdido tudo”. “Não ficou ninguém que quisesse regressar a Portugal e se visse impedido por deficiência de transporte”, garante Gonçalves Ribeiro, que só partiu de Luanda no dia anterior à independência. Entre Julho de 76 e Agosto de 79, o mesmo militar teve a responsabilidade do Comissariado para os Desalojados. Integrar foi a sua palavra de ordem e o “desotelamento” dos retornados foi para ele “a situação mais delicada e dolorosa”. Tiveram como destino de abrigo a colónia de férias do INATEL, na Costa da Caparica. Chegaram a Lisboa num Jumbo, o primeiro avião especialmente fretado pelo Governo português para transportar os nacionais que quisessem sair dos territórios africanos em vésperas de independência, varridos pela insegurança ou pela incógnita quanto ao futuro. Corria o mês de Maio, era dia 13 e foi há 30 anos. Origem Angola, cuja capital e arredores vinham sendo palco de lutas armadas entre facções e que atingiam civis indiscriminadamente. Desde o Verão de 74, e sobretudo depois do Acordo de Alvor, muita gente, sobretudo técnicos e quadros superiores, começaram a partir para Portugal, esgotando os voos regulares, depois de filas imensas para obter passagem. Na sequência deste primeiro voo fretado (cujos passageiros eram polícias da PSP e familiares desalojados do bairro do Cazenga), há tentativas para reforçar as ligações aéreas e marítimas com Lisboa. A iniciativa, assumida pelo então tenente-coronel e hoje general na reserva Gonçalves Ribeiro (à data secretário-geral do Alto Comissariado em Angola), só ganhará real eco em Setembro seguinte. Os governos em Lisboa eram instáveis e os meios escassos.Segundo relato de Gonçalves Ribeiro, autor do livro “A vertigem da descolonização- da agonia do êxodo à cidadania plena”, a TAP esgota em Agosto de 1975 a sua capacidade. É o hoje general quem contacta a Embaixada dos EUA para obter apoios de forma a serem fretados mais meios de transporte. Outros países ajudariam neste esforço. Tal permitirá pôr em prática uma das maiores pontes aéreas da História, a partir de Luanda e também do Huambo (Nova Lisboa), onde fora criado um terminal aéreo. A ponte aérea (e também as carreiras marítimas) prolongar-se-ão até alguns dias depois da independência de Angola (11 de Novembro de 75). O resultado desta fuga torna-se visível não só nos aeroportos em Portugal. Terminais de carga marítima e armazéns ficam a abarrotar de contentores (ou melhor, caixotes improvisados de madeira com a identificação do proprietário) e de automóveis chegados no bojo dos porta-viaturas fretados. Entretanto, na falta pelo menos imediata de acolhimento por parte de familiares ou amigos, as pessoas são alojadas em equipamentos colectivos, casas particulares, pensões e hotéis, havendo até recurso aos de quatro e cinco estrelas. Mais de 1.800 estabelecimentos estiveram envolvidos no acolhimento dos retornados, tanto de Angola como de Moçambique. À chegada, era o Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais (IARN) que tratava da fase assistencial, encarregando-se também de organizar o transporte até às terras de origem.

No final de 1976, estando já em funcionamento o Comissariado para os Desalojados, ainda havia quase 72 mil pessoas a viver em mais de 1.400 instalações. Terão saído de Angola para Portugal cerca de 305 mil pessoas entre Maio de 74 e Novembro de 75. O fluxo das ex-colónias continuaria em 76 e 77, nomeadamente de Moçambique. Portugal ganhou, subitamente, mais um quinto de habitantes. O acréscimo ajudou a curto prazo ao rejuvenescimento da população, mas a médio prazo aumentou as dinâmicas de envelhecimento, dado 60% dos retornados serem do sexo masculino e que uma maior escolaridade sempre contribuiu para baixar a fecundidade. Gonçalves Ribeiro Só havia tempo para reabastecerCerca de 305 mil pessoas abandonaram Angola com destino a Portugal, entre Maio de 1974 e Novembro de 1975. Mais de metade deles deverão as diligências do seu transporte ao hoje general na reserva Gonçalves Ribeiro. Foi perante a sua insistência junto dos governos de Lisboa que, antes da independência de Angola, se intensificaram os voos para trazer multidões desesperadas por fugir dos conflitos. Cerca de 60% deles tinham nascido na então ainda metrópole.Mas Gonçalves Ribeiro, como secretário-geral do Alto Comissariado em Angola, não limitou as suas iniciativas ao convencimento de que Lisboa devia reforçar as ligações da TAP e dar vazão por qualquer meio a uma população em pânico. “Durante a ponte aérea, não havia programação de voos os aviões chegavam, abasteciam-se e partiam”, descreve o general, acrescentando que “foram períodos de uma tensão a raiar os limites de ser suportada”. Na espera, as pessoas até dormiam nos balcões do aeroporto. Foi ele também quem organizou voos internos para resgate de famílias no interior de Angola, bem como a logística de apoio a quem procurava embarcar e despachar os pertences. Contou, para isso, com a ajuda preciosa de voluntários, assim tornados enquanto eles próprios aguardavam transporte, e que não se eximiam a substituir com a força física os guindastes paralisados nos portos. Gonçalves Ribeiro recorda bem como foram gastos as últimas reservas de alimentos da Manutenção Militar: em Luanda, no centro de acolhimento de Belas, chegaram a concentrar-se 15 mil pessoas e as marmitas industriais funcionavam dia e noite.

Sobre a impaciência dos que estavam para embarcar, o mesmo responsável diz compreender: “Estavam à espera de tudo porque tinham perdido tudo”.”Não ficou ninguém que quisesse regressar a Portugal e se visse impedido por deficiência de transporte”, garante Gonçalves Ribeiro, que só partiu de Luanda no dia anterior à independência. Entre Julho de 76 e Agosto de 79, o mesmo militar teve a responsabilidade do Comissariado para os Desalojados. Integrar foi a sua palavra de ordem e o “desotelamento” dos retornados foi para ele “a situação mais delicada e dolorosa”. Eduarda Ferreira in: Jornal de Notícias

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