sábado, 8 de outubro de 2011

Descolonização e Independência de Angola. 10.01.1976. A fuga da cidade do Namibe (ex- Moçâmedes) no «Silver Sky»


Perspectiva do navio cargueiro grego «Silver Sky». 
 
 
Encontrei na Net este poem
 
a que remete para  este acontecimento: 


"10 de Janeiro de 1976"

Moçâmedes já é Namibe!

Nas ruas, sirenes soam
Nas casas, o pânico instala-se
Na rádio vozes ecoam
Fujam, fujam p'ró cais

Do alto da Chela
Mabecos avançam
Serpentes rastejam
Clamando vingança

São rostos esgaseados
São hienas, são chacais
São olhos ensanguentados
São ferozes animais

Fujam, fujam p'ró cais 
Moçâmedes já  é Namibe!  
Adeus até nunca mais!
MSA

DA CIDADE DE MOÇÂMEDES NOS ÚLTIMOS MESES DA COLONIZAÇÃO
PORTUGUÊSA, À CIDADE DO NAMIBE NOS PRIMEIROS MESES DO PÓS  INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA.  A FUGA NO «SILVER SKY» em 10 de Janeiro de 1976

Mário Augusto da Silva Lopes viveu o auge do  processo revolucionário em curso (PREC), desenrolado em 1975,  tanto na Metrópole como em Angola. "Tal como na Metrópole, mas pior que na Metrópole,  também em Angola, com os movimentos de libertação instalados em Luanda, o ambiente revolucionário ia permitindo  toda uma série abusos, ocupações, etc,  mesmo de propriedades ganhas  com o suor do rosto. Os movimentos bombardeavam-se  de delegação para delegação, e a tropa portuguesa assistia passivamente ao  decair da situação, enquanto os o som mais audível por todas as cidades  era o martelar de caixotes."

No final da licença graciosa que se encontrava a gozar  na Metrópole, Mário Lopes ousou com  a família regressar à sua terra natal, Moçâmedes, para ali se radicar definitivamente, onde assistiu às cerimónias da independência de Angola,  suportou privações e perigos de toda a ordem, sempre insistindo em não partir.

 “No dia 10 de Janeiro de 1976 já não dava para suportar mais. A fuga deu-se no «Silver Sky»,  o  navio cargueiro grego, que nesse dia deixou  a cidade do  Namibe (ex- Moçâmedes)   rumo a  Welvys Bay levando consigo mais de 1600 pessoas a bordo  comprimidas  no convés e nos porões,   partilhando a comida, o agasalho e a angústia no porvir, longe de se aperceberem  que aquela viagem marcava o  fim da  presença em terras do Namibe de quantos naquele navio  viajavam, e que de forma abrupta se viram obrigados a abandonar  o seu  torrão-natal.”  A ideia era o afastamento temporário para o alto mar à espera que a situação acalmasse. Foi a salvação possível.
No capítulo  «Diário de bordo», do seu livro  O LADO ESCURO DA LUA, Mário Lopes narra as vicissitudes passadas no bojo daquele navio,  "o drama pungente daquele milhar e meio de pessoas que deixaram  o Namibe com destino a parte nenhuma",   fugidos da guerra, em buscava de segurança num outro local, mas sempre com a esperança de voltarem à sua terra,  tão depressa quanto a horda assassina e a loucura irracional dos homens  abrandasse". Tal não aconteceu.

Passo a transcrever, na íntegra, o relato de Mário Lopes (*)
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